Folha de S. Paulo


'Governo precisa reconhecer que seu tempo passou', diz CEO da WTorre

João Castellano/Istoé
SAO PAULO, SP, 03.12.2014, BRASIL, Presidente da construtora WTorre, Paulo Remy Gillet. Foto : João Castellano / ISTOE ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O CEO da construtora WTorre, Paulo Remy Gillet

O setor da construção sairá arrasado da crise, mas deverá ver o surgimento de "novos competidores e novas atitudes", segundo Paulo Remy Gillet, CEO da WTorre.

Remy, que chegou a participar de um dos protestos na avenida Paulista, diz acreditar que o governo Dilma está perdido e que, caso caia, seu sucessor terá mais condições de aprovar mudanças.

A WTorre foi citada marginalmente por delatores na Lava Jato, mas a empresa diz que não tem envolvimento, que nada ficou provado e que não faz obras públicas.

A empresa demitiu 27% de sua força de trabalho em quase dois anos devido à crise e hoje está com os projetos do setor imobiliário, como shoppings e galpões, parados.

Folha- O setor vai sair da crise escangalhado?

Paulo Remy - Escangalhado seria um adjetivo carinhoso. Eu diria que sai arrasado. Acho ruim, mas vejo oportunidades. Sem o nosso setor não dá para viver. Você pode viver sem setor de alimentos orgânicos ou tratores com GPS, mas sem a indústria da construção civil não dá.

E as empresas que cometeram crime?

Não quero fazer julgamento. Minha preocupação é que a gente saiba separar o joio do trigo. Se não, daqui a pouco não tem mais construtora.

Dá para ter obra sem propina?

Tem que dar. Corrupção é coisa que tem que ser desinventada. É competição desleal. Mas temos que tomar cuidado para não generalizar e deixar que o que algumas construtoras fizeram seja transferido para o setor como um todo.

Não pode virar a fórmula: construtor mais obra é igual a corrupção.

A W.Torre fez o estádio do Palmeiras. O concorrente fez o Corinthians. Quando vê o dele na Lava Jato, o que pensa?

Fico triste. É frustrante. Você está trabalhando, lutando. Do nada, aparece um que fez ao dobro do seu preço, num lugar a esmo, para atender situações políticas. Se você não fez nada errado, pode dormir tranquilo. Hoje, ninguém pode dizer que eu estou envolvido nessas coisas. Pode até dizer que perdi muito dinheiro, que deixei de participar, mas pelo menos estou tranquilo.

Virão novos nomes ao setor?

Outras construtoras nascerão se tivermos um mercado com demanda, exportação, investidor, governo querendo construir. O ato de construir é milenar, mas pode haver uma nova construtora. Virão novos nomes, novos competidores e novas atitudes.

Como está a empresa?

Eu vivo do mercado imobiliário e não tem um mercado imobiliário hoje. Tem o mercado de infraestrutura, onde estamos jogando todas as fichas. Estamos concorrendo na PPP de iluminação pública de São Paulo, olhando oportunidades das novas privatizações. Estamos na área de óleo de gás.

Fomos para um setor que ainda tem obra, porque na infraestrutura a visão é de longo prazo.

Como está a disputa com a arena do Palmeiras?

Existe uma arbitragem. Estamos discutindo. Agora as coisas estão encaminhadas. O Palmeiras entendeu que o modelo de negócios que nós propusemos a eles ninguém propôs no mercado.

O país tem liderança hoje?

A sociedade está vivendo um dos piores momentos de liderança. A Presidência é uma das ausências de líderes. Quando você tem um baixíssimo índice de aceitação, sua liderança está comprometida. Mas faltam também lideranças empresariais.

A Fiesp está posicionada.

Fazer barulho não acrescenta. Quero saber qual é a proposta. Não sou crítico ao presidente da Fiesp, mas critico essa coisa de "pus um pato, fiz campanha". Qual é a proposta? Comer o pato no molho? Contratar cinco notáveis e fazer uma proposta de reforma tributária? Ele fez? Mandou para o Congresso? Todo mundo culpa deputado, mas entidade de classe pode mandar projeto de lei.

O que acha que vai acontecer?

O governo atual infelizmente se perdeu. Há momentos em que os grandes líderes têm que reconhecer que seu tempo passou.

Seria a renúncia?

O termo renúncia ou impeachment será irrelevante. O mais importante é você reconhecer que está na hora de recuar seu exército, se reorganizar e voltar daqui a alguns anos. Minha única preocupação é que a gente se reorganize na forma da lei e das instituições. Se a presidente vai renunciar, está previsto na Constituição. Se não renunciar, nós cidadãos podemos pressionar o Congresso e fazer um impeachment. Impeachment não é golpe. Está previsto na Constituição, desde que seja dentro das regras do jogo. Se tivermos um governo de transição bem costurado, com um norte, sem interesse em 2018, teremos uma grande oportunidade. Tem que ser um governo que pare para resolver os problemas imediatos. O problema é aprovar no Congresso. Um governo de transição bem estruturado consegue aprovar com velocidade.

O sr. trabalha com forte cenário de saída da presidente.

Estou trabalhando com o cenário do mercado. Não posso trabalhar com outro. Temos que olhar para frente, em como vamos resolver o problema de amanhã de manhã. O mundo atual não é para ser olhado em 20 anos. Temos que pensar nos próximos dois anos.

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RAIO X
Paulo Remy Gillet, 50

Cargo
CEO e acionista da WTorre e membro do conselho de administração da Estapar

Trajetória
Formado em administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Foi um dos sócios fundadores da Galeazzi & Associados
Atuou como membro do comitê de investimentos da AIG Capital Partners


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