Folha de S. Paulo


É preciso cautela ao elevar juros, diz presidente do BC dos Estados Unidos

Kevin Lamarque/Reuters
Presidente do Fed, Janet Yellen, observa o líder americano, Barack Obama
Presidente do Fed, Janet Yellen, observa o líder americano, Barack Obama

O Federal Reserve (banco central norte-americano) deve proceder "cautelosamente" ao elevar a taxa juros, porque a inflação ainda não se mostrou duradoura diante de um cenário de iminentes riscos globais à economia dos Estados Unidos, afirmou a presidente do Fed, Janet Yellen, nesta terça-feira (29).

Em sua primeira declaração desde que o banco decidiu deixar os juros inalterados, há duas semanas, Yellen mostrou-se, mais uma vez, cautelosa sobre as ameaças à maior economia do mundo, incluindo os preços baixos do petróleo e as preocupações com a economia da China.

"Os acontecimentos no exterior sugerem que o cumprimento de nossas metas de emprego e inflação provavelmente vão exigir uma trajetória um pouco menor para a taxa de juros em relação ao que era esperado em dezembro", quando o Fed elevou os juros pela primeira vez em uma década, disse Yellen no Economic Club em Nova York.

"Dados os riscos para a perspectiva, considero apropriado que o Comitê proceda cautelosamente no ajuste da política monetária", disse Yellen, referindo-se ao Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que define a política monetária.

No dia 16 de março, o Fed decidiu manter, pela segunda reunião seguida, a taxa de juros na faixa entre 0,25% e 0,50%. O banco acenou para uma desaceleração no exterior e turbulências no mercado no início do ano ao justificar a pausa no aperto da política monetária.

Naquele momento as autoridades do Fed também reduziram as expectativas econômicas e previram apenas mais duas altas dos juros este ano, contra previsão de quatro elevações em dezembro.

Nesta terça-feira, Yellen afirmou que ainda espera que os obstáculos do crescimento fraco no exterior, dos preços baixos do petróleo e das incertezas com a China diminuam e permitam que a recuperação continue.

Segundo a presidente, a expectativa de redução dos obstáculos é um motivo importante para as autoridades esperarem que "aumentos graduais" nos juros sejam apropriados. "Os contágios para a economia dos Estados Unidos dos acontecimentos dos mercados globais desde o começo do ano provavelmente serão limitados", acrescentou.

Yellen disse que o Fed queria "adiantar-se" a esse risco, apesar de a economia dos EUA provar-se "bastante resiliente" diante de fatores estrangeiros significativos.

As medidas de inflação nos EUA têm mostrado alguma força recentemente, com a medida anual preferida do Fed permanecendo em 1,7% em fevereiro, embora ainda abaixo de sua meta de 2%.

Entretanto, Yellen permanece cautelosa. "É cedo demais para dizer se esse recente ritmo mais rápido se provará duradouro", disse ela, repetindo suas preocupações de 16 de março.

HISTÓRICO

O Fed vinha sinalizando que pretende promover pelo menos dois aumentos de juros neste ano, o que reduziria a atratividade de ativos emergentes. A esse respeito, Yellen disse que a projeção não é um "plano", mas depende da evolução da economia.

Na semana passada, dois presidentes regionais do Fed apontaram que as taxas poderiam voltar a subir mais cedo do que o esperado.

Um deles, James Bullard, do Fed de St. Louis, disse que outro aumento de juros nos Estados Unidos "pode não estar longe".

Bullard, que votou a favor da decisão de política monetária de março, observou que o mercado de trabalho havia melhorado desde dezembro. "Na verdade, a decisão de dar uma pausa parece ter colocado mais peso sobre as reduções de crescimento global e dos EUA", disse.

MERCADOS

Os mercados globais vinham operando em tom de cautela nesta terça-feira, à espera do discurso da presidente do Fed.

O dólar reduziu a alta frente ao real após a fala de Yellen enfraquecer as expectativas de aumentos dos juros norte-americanos.

Ainda assim, a moeda norte-americana continuava em alta e na casa dos R$ 3,65. Às 13h45, o dólar avançava 0,72%, a R$ 3,6517 na venda, após atingir R$ 3,6774 na máxima do dia.

Os principais índices acionários dos Estados Unidos passaram a subir. Às 13h52 (horário de Brasília), o índice Dow Jones subia 0,41%, a 17.608 pontos, enquanto o S&P 500 tinha alta de 0,50%, aos 2.047 pontos. O Nasdaq subia 1,03%, aos 4.815 pontos.


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