As notícias recentes da política embolaram as previsões e adicionaram incertezas no horizonte de investidores do mercado financeiro.
Se até a semana passada a probabilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff alcançava 75% na visão das principais casas financeiras, nesta, o cenário perdeu fôlego.
A resistência de parte do PMDB em desembarcar do governo e a decisão do ministro Teori Zavaski de puxar a investigação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Supremo são movimentos contra o impeachment, segundo visão de operadores ouvidos pela Folha.
Isso contribuiu para que a Bolsa cedesse 2,59%, e o dólar subisse para R$ 3,67 (comercial). A alta da moeda americana no exterior também teve efeito no Brasil.
VOLATILIDADE - Cenário interno puxou alta do dólar e queda da Bolsa nesta quarta
A opinião corrente no mercado financeiro é de simpatia pela saída precoce de Dilma, o que poderia encerrar o atual impasse político.
Analistas e investidores ainda têm como previsão preponderante o impeachment da presidente e a assunção do vice, Michel Temer.
Este cenário levaria o mercado à euforia em um primeiro momento, mas não eliminaria os riscos políticos.
Segundo a consultoria Eurasia Group, que faz análise para bancos e gestoras, a delação dos executivos da Odebrecht (ainda em dúvida) e a lista de 200 políticos beneficiados, que circulou nesta quarta (23), "lançam sombras" sobre um eventual governo Temer.
"A decisão de Odebrecht e OAS de cooperar é um punhal que pairará sobre a administração Temer por algum tempo (...) Mesmo se Temer não estiver implicado pessoalmente, a implicação de escalões superiores de seu partido vai dificultar sua capacidade de negociar reformas no Congresso", escreveu Christopher Garman, da Eurasia.
O executivo de um grande banco que opera no Brasil avalia que a delação da Odebrecht pode engolir "mais políticos, talvez até o vice, o que colocaria em dúvida se haveria um governo de transição".
Para três gestores ouvidos, a aposta que tem ganhado corpo é que Temer assumiria e, se conseguisse formar um governo com apoio político, poderia retardar o julgamento sobre as doações ilegais da campanha de 2014, o que poderia tirá-lo do cargo.
Para Mauro Schneider, da consultoria MCM, é difícil fazer previsões de um eventual governo Temer. "A atenção principal do mercado hoje ainda é se vai ou não haver impeachment", disse.