Folha de S. Paulo


Depósito voluntário não é má ideia, mas pode virar pedalada, diz ex-BC

Daniel Marenco/Folhapress
Gustavo Franco, economista e ex-presidente do Banco Central na gestão FHC
Gustavo Franco, economista e ex-presidente do Banco Central na gestão FHC

Na opinião do economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central na gestão Fernando Henrique Cardoso, a medida anunciada pelo governo nesta segunda-feira (21), que visa criar depósitos voluntários remunerados no Banco Central, "não é uma má ideia", mas se estiver sendo proposta pelas razões erradas, pode levar a uma nova pedalada.

"Esse tema do depósito voluntário no Banco Central eu não acho que seja uma má ideia. Talvez ele esteja sendo proposto pelas razoes erradas, porque eles estão de olho no fato de que, se a mesma coisa que a operação compromissada faz é feita através de um depósito voluntário, não conta na estatística de dívida pública", afirmou Franco a jornalistas após evento com economistas e empresários em São Paulo nesta terça-feira (22).

"Aí, desculpa, estamos fazendo uma pedalada. É criatividade contábil. Se o Banco Central está criando um passivo desse tipo, isso deveria constar da estatística de dívida pública", avalia.

"Quando você estiver com uma autoridade, pergunte: 'O senhor faria o depósito voluntário se ele contasse para a dívida pública? Aí espere para ver o que o ministro responde", disse Franco aos repórteres presentes.

Ainda dependente de aprovação do Congresso, a criação dos depósitos voluntários remunerados no Banco Central funcionaria como uma alternativa para a instituição regular a quantidade de dinheiro na economia e, consequentemente, manter a taxa básica de juros na meta fixada pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

Hoje, o BC administra a quantidade de dinheiro no sistema financeiro por meio da venda de títulos públicos, as chamadas operações compromissadas, que somam hoje cerca de R$ 1 trilhão (16% do PIB). Eram 7% do PIB em 2007.

De acordo com o Ministério da Fazenda, essa alternativa já é adotada pelos bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa.

Sobre a medida aventada recentemente pelo governo para o uso de reservas internacionais para pagar dívida pública, Gustavo Franco classificou como "tolice completa" e disse que "é perda de tempo ficar refletindo sobre medida tão inócua".

O economista afirmou também que um eventual governo de transição teria "índole meio parlamentarista, até para que se forme uma coalizão no Congresso em torno de uma pauta".

"Isso é o que mais ou menos está nas cartas. E esses documentos que o PMDB andou publicando são indicações razoáveis do tipo de coisa que poderia vir. Acho que não é nada mal para um governo de dois anos para completar o percurso até a próxima eleição."


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