A velocidade e a intensidade dos mais recentes fatos políticos surpreendem, mas economistas de importantes consultorias não hesitam em definir um cenário mais provável para o desfecho da crise: o
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na semana passada, aumentaram as apostas na interrupção do mandato. Algumas consultorias divulgam uma probabilidade para o impedimento -que estão entre 70% e 75%.
As estimativas foram feitas após os mais recentes protestos contra o governo, a indicação de Lula para o posto de ministro-chefe da Casa Civil e a divulgação das gravações telefônicas entre o ex-presidente,
Dilma e outros aliados. Elas não consideram, no entanto, as manifestações de sexta-feira (18) a favor do governo.
Os principais argumentos dos economistas para incorporar o impeachment de Dilma no cenário mais provável -ou "cenário-base", no jargão do mercado- são a força das ruas e a falta de capacidade do
governo de formar uma coalização anti-impeachment no Congresso após a divulgação das gravações.
A consultoria norte-americana Eurasia estima entre 65% e 75% a probabilidade de Dilma deixar o Palácio do Planalto. Para os analistas, no entanto, o desfecho não ocorrerá antes de maio.
A MB Associados trabalha com a expectativa de ruptura de 70%. "Isso pode ser lido como quase uma certeza de que a presidente não consegue chegar ao fim do mandato", diz o economista-chefe da
consultoria, Sergio Vale.
O cientista político e analista da consultoria Tendências Rafael Cortez faz uma análise semelhante. "A combinação entre a pressão social e a crise de legitimidade resultou na elevação da probabilidade de
interrupção do mandato de 55% para 70%."
Cortez reconhece que a nomeação de Lula, se confirmada, dá fôlego ao governo, mas diz que não há sinais concretos de reversão da tendência para o impeachment.
A consultoria MCM também considera que os últimos eventos políticos "aumentaram acentuadamente" a probabilidade de aprovação do processo de impeachment no Congresso, o que pode ocorrer em
cerca de 30 dias.
A expectativa de mudança no governo também está refletida nas negociações no mercado de câmbio e na Bolsa. Em março, o dólar comercial acumula queda de 9,3% e o Ibovespa tem alta de 18,7%.
"A expectativa de mudança de um governo de esquerda, em qualquer lugar do mundo, faz as Bolsas subirem, e o contrário é verdadeiro", afirma Fábio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO
Associados.
Silveira também trabalha com o cenário de impeachment como mais provável, mas ressalta que os problemas do país não acabarão.
"A confiança pode melhorar um pouco, mas os fundamentos vão continuar ruins."