Folha de S. Paulo


Economistas defendem mudança de governo para solucionar a crise

Com a retomada do crescimento dependendo de reformas e do ajuste fiscal, economistas consideram que a mudança de governo, com um impeachment da presidente Dilma Rousseff, seria uma das saídas para a crise econômica.

Durante seminário sobre política monetária no Rio nesta sexta-feira (18), o ex-presidente do BC (Banco Central) Affonso Celso Pastore foi um dos economistas a sugerir esse caminho. Para ele, os desequilíbrios fiscais dificultam o trabalho do BC de conter a inflação.

"O Banco Central perdeu a potência da política monetária. Perdeu potência porque desequilíbrios no lado fiscal são de tal ordem que transforma a política econômica em estilingue para matar elefante", disse Pastore, durante sua apresentação.

Segundo ele, existem dois caminhos: "o impeachment ou nada muda":

"Muda o governo, entra um governo com legitimidade, com uma política econômica coerente e bem feita, com uma agenda de reformas, muda totalmente o quadro. E aí voltamos a pensar numa política monetária", disse Pastore.

Homenageado durante o seminário pelos 70 anos, o professor José Julio Senna, do Instituto de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), fez coro com a ideia. Ele disse que acabar com o impasse político seria o ponto de partida de saída da crise.

"O governo perdeu totalmente a capacidade de agir, negociar, implantar reformas, introduzir medidas de políticas econômicas, mínimas que sejam. Então, mudança de governo é hoje requisito importante para as coisas se resolverem", disse Senna.

Segundo o economista, o desequilíbrio fiscal do país impede que a inflação brasileira caminhe para o centro da meta de inflação do governo, de 4,5% ao ano. A inflação fechou o ano passado em 10,67% pelo IPCA, o índice de preços oficial do país.

Essa perda de potência é algo discutido por economistas desde o fim do ano passado. É o que se chama na teoria econômica de dominância fiscal. Nela, o crescimento do endividamento público acaba alimentado a inflação.

Isso ocorre num cenário em que a alta dos juros aceleram o endividamento público. Esse crescimento gera incertezas e leva investidores a sacarem recursos desses títulos e migrarem para o dólar, o que acaba gerando inflação.

Senna disse ainda que teme as consequências de uma possível "guinada à esquerda" na política econômica. Segundo ele, se o governo se mantiver no poder ele terá pouco espaço para negociar com o Congresso e passaria a atuar "na marra".

"O governo teria que adotar medidas que não dependessem do Congresso. Estamos falando de baixar juros, usar reservas cambiais. O uso das reservas para reduzir a dívida seria um erro, por exemplo. As reservas são um seguro contra pressões externas", disse Senna.

O professor da PUC-Rio Afonso Bevilaqua, ex-diretor do BC, tem avaliação semelhante. Para ele, mesmo que o impeachment da presidente saia de cena, dificilmente o governo teria apoio do Congresso para ser bem-sucedido.

Neste cenário, ele disse, os investidores exigiriam um "prêmio" maior pelo risco brasileiro. "Teríamos desemprego crescente, inflaçao mais alta do que hoje. Economia se tornaria crescentemente vulnerável", disse ele.


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