Folha de S. Paulo


Ferramentas da internet ajudam a evitar crédito caro

Consumidores que querem fugir da anuidade dos cartões de crédito, dos juros altos do cheque especial ou de extratos de conta-corrente difíceis de compreender têm uma alternativa em novas empresas do setor financeiro.

Conhecidas como fintechs, essas empresas oferecem ferramentas para anotar e gerenciar gastos do dia a dia, contratar empréstimos pela internet, cartões de crédito e pré-pagos vinculados a aplicativos de celular e comparadores de preços de seguros e de crédito.

A gerente de produtos Andréia Niedzielski, 33, passou a usar o aplicativo de controle financeiro GuiaBolso na metade de 2015, quando estava sem emprego.

O dinheiro que recebeu em sua rescisão foi usado na reforma da casa, e o aplicativo ajudou a enxergar melhor o que era gasto na obra. Também permitiu a ela perceber que poderia diminuir gastos supérfluos.

"Antes, não sabia direito quanto estava gastando na feira e no mercado, por exemplo. Vi que eram quase R$ 2.000 por mês, para uma casa só com eu e meu marido. Então estava na hora de deixar os produtos mais caros."

Adeus, bancos

Para quem precisa de um empréstimo, seja para trocar uma dívida cara (como as do cheque especial ou do rotativo do cartão de crédito), seja para realizar um projeto pessoal, essas empresas possibilitam simulações e comparações rápidas de taxas de juros e prazos em várias instituições financeiras.

Foi o que fez o analista de sistemas Bruno Poveda, 29. Ele queria um empréstimo de R$ 13,5 mil para investir na abertura de uma esmalteria com sua mulher. No banco, a linha custava 3,2% ao mês.

Pelo site Bom Pra Crédito, ele encontrou a taxa de 2,7% oferecida pelo site Lendico.

A taxa de juros obtida pelo consumidor depende de variáveis relacionadas ao risco de ele não pagar o empréstimo em dia.

Podem ser observadas informações como sua renda, histórico de pagamentos, valor e prazo solicitado, histórico de navegação e perfis em redes sociais.

SEM ANUIDADE

Desde 2014, a Nubank oferece cartão de crédito vinculado a aplicativo pelo celular, sem anuidade e com taxas menores do que as praticadas pelo mercado.

Cristina Junqueira, vice-presidente da empresa, diz que a crise econômica vem impulsionando a busca pelo cartão por pessoas que querem se livrar das cobranças de tarifas mensais. São 250 mil pedidos por mês.

A companhia realiza uma análise de crédito antes de aprovar um pedido de cartão e os clientes são divididos em três grupos: os aprovados imediatamente, os que vão para uma lista de espera de cerca de três meses e os que têm o acesso ao cartão negado de imediato.

Até agora, a companhia recebeu 2 milhões de pedidos. A Nubank não informa quantas pessoas receberam o cartão até agora, mas 400 mil estão aguardando aprovação.

CAUTELA

Apesar dos benefícios que oferecem e de seu potencial de crescimento, as fintechs ainda atendem a uma parcela pequena da população, diz Marcelo Bradaschia, consultor em inovação e cofundador do FintechLab, que mapeia as companhias do setor.

"Hoje o mercado ainda é bastante conservador. A grande massa não foi impactada por elas", diz.

A opinião é compartilhada por Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec/RJ.

"Essas empresas estão comendo pela beirada. Ocupam primeiro as faixas de mercado dos consumidores mais abertos a modernidades tecnológicas."

A cautela não é de todo exagerada, dizem os especialistas. Com o crescimento desse tipo de oferta, também surgiram empresas de fachada que tentam enganar consumidores.

A principal recomendação é consultar a qualidade do serviço e a reputação dessas companhias com outros consumidores e em sites como o Reclame Aqui antes de fornecer dados pessoais a uma empresa do setor financeiro.

Para fugir de armadilhas no crédito pela internet, especialistas e empresas do setor recomendam nunca fazer qualquer pagamento antes de receber o dinheiro solicitado.


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