Folha de S. Paulo


Microsoft dá passo ousado na era pós-Windows e lança software para Linux

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Microsoft co-founder Bill Gates listens to a question during an interview in New York February 22, 2016. The Bill and Melinda Gates Foundation has turned its attention to the Zika virus outbreak, and its founders said the response to the crisis, which may be linked to devastating birth defects in South America, has been better than for the 2014 Ebola outbreak in Africa.REUTERS/Shannon Stapleton ORG XMIT: SHN111
Bill Gates, cofundador da Microsoft e o homem mais rico do mundo, segundo a Forbes

A Microsoft está dando seu maior passo para ir além do sistema operacional Windows desde que o presidente-executivo Satya Nadella deu início a uma reavaliação da estratégia da empresa quanto ao seu principal produto de software, dois anos atrás.

A companhia anunciou na segunda-feira (7) que, pela primeira vez, colocaria um de seus principais produtos no ambiente Linux, vendendo uma versão de seu software de banco de dados que operaria com o sistema operacional de fonte aberta.

Até o momento, o software SQL Server só era vendido em padrão Windows, refletindo a estreita integração que a Microsoft tradicionalmente emprega para proteger as receitas que aufere com seu sistema operacional.

"Acho que era uma coisa religiosa", disse Merv Adrian, analista do Gartner, sobre a determinação da Microsoft de não ir além do Windows, nos anos em que a companhia esteve sob o comando de Steve Ballmer, o predecessor de Nadella. "Teríamos adorado ver essa aproximação com o Linux cinco anos atrás; era o que lhes dizíamos que deviam fazer, na época."

Ballmer adotou uma posição de vigorosa hostilidade ao Linux, em dado momento descrevendo o código de fonte aberta como um "câncer" que devorava os negócios do software comercial.

"AGRESSIVOS"

No entanto, Nadella disse que a mudança de estratégia ofereceria à Microsoft uma oportunidade de conquistar espaço na parte (muito maior) do mercado de software de banco de dados que não opera com o Windows, e negou que isso viesse a resultar em "canibalização" do sistema operacional da Microsoft, levando clientes a optar pelo Linux.

"Quero que sejamos agressivos na exploração de todas as oportunidades", ele disse. Perguntado se o lançamento representava ataque direto à Oracle, a companhia que lidera o mercado de software para bancos de dados, ele acrescentou que "com certeza, são eles que estão por cima". O novo software não deve chegar ao mercado antes da metade de 2017.

Em avanços anteriores para além do Windows, Nadella ordenou que o serviço Office 365, que fornece aplicativos de escritório em nuvem, fosse adaptado para operar em aparelhos móveis acionados pelos sistemas operacionais Android e iOS, respectivamente do Google e Apple. Na semana passada, a Microsoft também adquiriu a Xamarin, uma empresa de capital fechado que produz ferramentas de software para que desenvolvedores criem apps para os sistemas operacionais Android e iOS.

Essas decisões foram causadas pelo insucesso da Microsoft em conquistar espaço no mercado de smartphones com o Windows, o que forçou a empresa a procurar outras maneiras de atingir os consumidores que usam aparelhos móveis. Em contraste, a decisão de transformar o SQL Server em software para múltiplas plataformas vem de uma posição de força.

VALORES

A Microsoft superou a IBM e conquistou o segundo lugar no mercado de software de banco de dados, que movimenta US$ 32 bilhões ao ano, no período 2011-2014, de acordo com o grupo de pesquisa Gartner, ainda que sua fatia de mercado, 21%, seja de apenas metade da participação da Oracle.

Scott Guthrie, o executivo que comanda o grupo de computação em nuvem e produtos empresariais da Microsoft, indicou que o preço do software estaria alinhado ao que a empresa cobra pelo Windows, um patamar que ele definiu como "desordenador" para as demais companhias do segmento de bancos de dados.

A Microsoft menciona preço de US$ 13 mil pela instalação de seu software de banco de dados nos servidores mais básicos, ante um preço de tabela de mais de US$ 100 mil para uma licença semelhante da Oracle, quando considerados vários recursos adicionais que as empresas usualmente contratam, de acordo com Donald Feinberg, analista do Gartner.

Os descontos oferecidos pela Oracle significam que em muitos casos os clientes pagam significativamente menos que o preço de tabela, ele disse, se bem que o software da Microsoft ainda assim provavelmente deva sair muito mais barato.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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