Folha de S. Paulo


Bolsa sobe e dólar cai com força toda vez que chance de impeachment volta ao noticiário

A alta do Ibovespa e a queda do dólar nesta quinta-feira (3) repetiram um movimento visto em datas passadas, quando o mercado também reagiu dessa forma a informações com potencial de aumentar as chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Os investidores repercutem a notícia sobre a delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) à força-tarefa da Operação Lava Jato, sinalizando que uma possível troca de governo seria melhor para os negócios.

As ações de estatais dispararam e ajudaram o Ibovespa a fechar em alta de 5,12%, aos 47.193,39 pontos nesta quinta-feira, o maior patamar desde 24 de novembro do ano passado, quando alcançou 48.284,19 pontos. O giro financeiro superou a média dos últimos dias e ficou em R$ 13 bilhões.

Detalhes do acordo de Delcídio foram veiculados pelo site da revista "Istoé", que publicou reportagem com trechos dos termos de delação. No entanto, Delcídio disse, por meio de nota, que não reconhece a autenticidade de documentos divulgados pela revista. A informação de que Delcídio fechou acordo de delação premiada foi confirmada à Folha por pessoas próximas às investigações da Lava Jato.

As ações preferenciais da Petrobras subiram 16,28%, a R$ 6,57, enquanto as ações ordinárias terminaram com ganho de 12,46%, a R$ 9,11. Os papéis do também estatal Banco do Brasil subiram 13,07%, a R$ 16,61. Fora do Ibovespa, as ações PNB da Eletrobras ganharam 5,80% (a R$ 10,58) e as ON avançaram 11,03%, a R$ 6,54.

Os papéis PN da estatal mineira Cemig ganharam 14,72% (a R$ 7,01) e os ON –que não estão no íncide— subiram 15,24%, a R$ 7,03.

Além das estatais, as ações do setor financeiro reagiram com alta expressiva: Itaú Unibanco PN (+9,88%); Bradesco PN (+8,92%); Bradesco ON (+6,57%); Santander unit (+8,41%); e BM&FBovespa (+7,09%).

A mineradora Vale teve alta de 9,70% na ação PNA e 9,84% na ON. O mesmo movimento foi visto nas siderúrgicas: CSN ON (+15,04%), Usiminas PNA (+35,10%) e Gerdau (+7,73%). Outro destaque de alta foram as ações PN da Gol —que não estão no Ibovespa—, com +39,19%.

Bolsa sobe e dólar cai com chance de impeachment - Bolsa, em pontos

O dólar à vista recuou 2,11%, a R$ 3,8063 — a menor cotação desde 10 de dezembro de 2015 (R$ 3,7966). O dólar comercial perdeu 2,21%, a R$ 3,8030.

A euforia do mercado também influenciou os juros futuros, um dia após o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central ter mantido a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. O contrato de DI para janeiro de 2017 caiu de 14,060% para 14,040% e o contrato de DI para janeiro de 2021 recuou de 15,300% para 15,070%.

Nesta quarta-feira (2), o Ibovespa também subiu e o dólar caiu com o noticiário político. Analistas e operadores apontaram como um dos fatores para o bom humor do mercado a informação de que o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da empreiteira OAS condenado a 16 anos de prisão na Operação Lava Jato, decidiu fazer um acordo de delação premiada, segundo a Folha apurou junto a profissionais e investigadores que acompanham as negociações.

"Não é o clima estável lá fora que vai animar ainda mais os negócios por aqui. Petróleo e Bolsas estáveis lá fora poderiam sugerir alguma realização por aqui, depois das fortes altas dos últimos dias, mas o foco por aqui está no noticiário político", escreveu o analista Vitor Suzaki, da Lerosa Investimentos.

"O mercado agradece toda vez que a chance de mudança no comando do país aumenta. Nem mesmo a manutenção dos juros pelo Copom com placar dividido vai tirar a força da expectativa de melhora", acrescenta.

Bolsa sobe e dólar cai com chance de impeachment - Dólar, em R$

ACARAJÉ

Em 22 de fevereiro, no dia em que foi deflagrada a 23ª fase da Operação Lava Jato, intitulada Acarajé, que teve como um dos alvos o marqueteiro João Santana, o principal índice da Bolsa paulista encerrou o pregão com ganho de 4,07%, aos 43.234,85 pontos. A moeda americana à vista recuou 2,43%, a R$ 3,9448. O dólar comercial fechou em queda de 1,78%, a R$ 3,9510.

Analistas, no entanto, apontaram como principal causa para a alta do Ibovespa naquele dia o avanço das commodities no mercado internacional.

COMISSÃO

Em 9 de dezembro do ano passado, o mercado financeiro reagiu positivamente à rejeição da chapa governista na eleição dos membros da comissão especial da Câmara dos Deputados que analisaria o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Naquele pregão, o dólar à vista teve desvalorização de 2,27%, e o real foi a moeda que mais ganhou força contra a divisa dos Estados Unidos. Já o Ibovespa teve valorização de 3,75%, para 46.108,03 pontos.

Seis dias antes, em 3 de dezembro, o que "fez preço" foi a notícia de que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou o pedido de abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

O principal índice da Bolsa brasileira fechou em alta de 3,29%, aos 46.393,26 pontos. Na máxima daquela sessão, o índice chegou a avançar 4,96%. O dólar à vista teve desvalorização de 2,62%, para R$ 3,7440. Já o dólar comercial recuou 2,24%, para R$ 3,749.

Esse movimento de euforia no mercado também foi visto na eleição presidencial de 2014 sempre que a então candidata à reeleição Dilma Rousseff aparecia atrás nas pesquisas de intenção de voto.


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