Folha de S. Paulo


Bilionários alimentam apetite chinês por craques do futebol

Os clubes de futebol chineses registraram neste começo de ano seus maiores gastos em todos os tempos, e roubaram talentos das maiores ligas do planeta.

No Brasil, o mercado chinês contratou jogadores importantes como os ex-corintianos Gil, Ralf, Jadson e Renato Augusto, o ex-santista Geuvânio e Luis Fabiano, que defendia o São Paulo até dezembro.

Os chineses responderam também por 3 das 4 maiores transferências na janela de janeiro, o período de meio de temporada na Europa em que os clubes podem buscar reforços.

Em janeiro, o meio-campista brasileiro Ramires, do Chelsea, se transferiu ao Jiangsu Suning por 28 milhões de euros, um recorde na Super League chinesa.

O Hebei China Fortune contratou o atacante marfinense Gervinho, que estava no Roma, por 18 milhões de euros, e o Shanghai Shenhua capturou Fredy Guarin, da seleção da Colômbia e da Inter de Milão, por 13 milhões de euros, segundo a Transfermarkt.

O fenômeno é impulsionado pelo dinheiro de magnatas que buscam favores políticos.

"Todo mundo está tentando impressionar e se sair melhor que os demais clubes, com grandes contratações. E tudo isso deriva de uma grande entrada de dinheiro", diz Mark Dreyer, criador do blog Chinasportinsider.com.

A Super League da China é vista por analistas como a melhor liga de futebol da Ásia, mas continua muito atrás das europeias. "Os proprietários chineses precisam pagar mais, e sabem disso", disse Dreyer.

A China também é destino para jogadores que passaram do pico de suas carreiras e querem ganhar dinheiro aproveitando sua fama, semelhante ao que aconteceu nos Estados Unidos, para onde Pelé e David Beckham se encaminharam em seus anos pré-aposentadoria.

"Não é incomum que estejamos vendo isso na China, em função do dinheiro da televisão que a Super League chinesa começa a receber", disse Peter Schloss, presidente-executivo do CastleHill Partners, um banco de investimento que se especializa em esportes, em Pequim.

Os ricos da China continuam a responder aos sinais políticos que pedem investimento no futebol. O presidente chinês Xi Jinping é torcedor ardoroso de futebol e vem declarando frequentemente que um de seus objetivos como líder é ajudar a China a se classificar para a Copa do Mundo - e no futuro sediá-la. A seleção nacional se classificou para a Copa de 2002, sediada pelo Japão e Coreia do Sul, mas perdeu os três jogos que disputou, sem marcar gols.

"Minha maior esperança para o futebol chinês é que os times da China estejam entre os melhores do mundo", disse Xi no ano passado. "Que o futebol possa desempenhar papel importante no fortalecimento físico do povo, e que desperte nas pessoas um espírito de luta incansável".

No ano passado, Li Ruigang, o bilionário que comanda a China Media Capital, venceu a rede estatal CCTV e pagou oito bilhões de yuan (US$ 1,2 bilhão) para transmitir as partidas da Super League pelos próximos cinco anos. Isso representa considerável ágio ante os anos precedentes, quando os direitos eram vendidos por cerca de 50 milhões de yuan ao ano.

Mas jogadores e treinadores chineses questionam esse pesado investimento em talentos importados. Cai Wei, treinador do Guo'ao Yue Ye, um clube de futebol amador de Pequim, disse que isso talvez não ajude a melhorar o futebol na China, e talvez até atrapalhe o processo.

"É claro que o dinheiro é deles e podem gastá-lo como quiser, mas ficam jogando dinheiro em jogadores estrangeiros, clubes estrangeiros", disse Cai. "Isso fará muito pouco bem ao futebol chinês - os jogadores estrangeiros ficarão com as melhores posições em campo, e os jogadores chineses não terão a prática de que precisam, e com isso nada ganham".

A história recente indica que nem todas as transferências de grandes nomes funcionam bem - em 2012, Nicolas Anelka e Didier Drogba, dois antigos astros do Chelsea, foram contratados pelo Shanghai Shenhua por quantias consideráveis, mas deixaram o clube depois de apenas uma temporada, em meio a informações de que não haviam recebido os salários prometidos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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