Folha de S. Paulo


Professora da USP diz que critérios de prédio verde estão inadequados

Não é só o mau uso das tecnologias o responsável pelo baixo desempenho energético dos prédios sustentáveis.

Essa ao menos é a visão da arquiteta Joana Soares Gonçalves, que trabalha no departamento de tecnologia da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) e organizou o livro "Edifício Ambiental" (Oficina de Textos, 2015, 585 págs.).

Ela sinaliza outros pontos que julga falhos nos critérios das certificações, em especial do Leed.

"Precisamos mudar o foco em relação a seguir uma linha americana", afirma. "Se você vê os pesos dos diferentes critérios, ventilação natural, por exemplo, é considerada uma inovação opcional, e deveria ser algo básico", sustenta.

"Você pode pontuar alto no total sem ir bem num item como esse. A ênfase do modelo americano, que na verdade foi inicialmente desenvolvido na Alemanha, é nos sistemas prediais, como o de ar condicionado."

Segundo Joana, o desempenho abaixo das expectativas de edifícios certificados pelo Leed chegou a gerar processos judiciais contra o GBC (Green Building Council, responsável pelo selo) nos EUA, por falsidade ideológica.

Tanto lá como aqui, a visão da arquiteta sobre os objetivos dos incorporadores é incisiva: "Eles querem o marketing de ter o selo, não o desempenho", diz. "Se quisessem o desempenho, investiriam no gerenciamento energético."

E ela também chama a atenção para as discrepâncias entre uma operação simulada e a real. "O desempenho simulado é diferente porque o ser humano no edifício não vai se comportar como no cenário ideal, vai deixar a luz acesa, usar o ar-condicionado em uma potência maior que a programada", avalia.

"A carga de automação desses empreendimentos é muito grande e complicada para quem vai gerenciá-los. Ou não precisamos de tudo isso ou não sabemos gerenciar, esse é um questionamento que faço."


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