Folha de S. Paulo


Japão entra para o clube das taxas de juros negativas

Toshifumi Kitamura/AFP
Presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, durante anúncio do corte da taxa de juros
Presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, durante anúncio do corte da taxa de juros

O Banco do Japão cortou as taxas de juros do país para 0,1% negativo, chocando os analistas e deflagrando uma alta nos mercados de ações e títulos, como parte das medidas das autoridades econômicas de todo o mundo para responder às crescentes preocupações quanto às perspectivas da China e os riscos de uma desaceleração mundial.

A ação do banco central surge em um momento no qual muitos dos bancos centrais do planeta sinalizaram prontidão para combater a desaceleração nos mercados emergentes e a queda nos preços do petróleo. Esses sinais ajudaram a escorar os mercados de ações, que começaram o ano com quedas fortes.

Até mesmo as mais resistentes economias do planeta estão mostrando efeitos adversos da desaceleração na demanda mundial. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos sofreu pesada desaceleração no quarto trimestre, para apenas 0,7%, quando os preços baixos do petróleo e a desaceleração nas exportações contiveram o ímpeto da recuperação.

A inesperada decisão japonesa vem em um momento no qual os bancos centrais estão se aventurando no território dos juros negativos a fim de estimular o crescimento. O Banco Central Europeu (BCE) se tornou o primeiro banco central importante a arriscar taxas de juros abaixo de zero, em junho de 2014, e agora cobra 0,3% dos bancos pelo dinheiro que recebe em forma de depósitos overnight. O BCE foi acompanhado pelos bancos centrais da Dinamarca, Suíça e Suécia.

A decisão do banco central japonês destaca o quanto a inflação mundial está baixa, e pode despertar o medo de "guerras cambiais", dado o efeito do estímulo monetário na Europa e Japão sobre o euro e o iene.

"É uma mudança de regime muito grande", disse Masaaki Kanno, economista chefe do banco JPMorgan em Tóquio. "Agora, o banco central tem mais uma ferramenta disponível se quiser relaxar ainda mais a política monetária".

A notícia levou os investidores a procurar segurança nos títulos do governo, com rendimentos que caíram abaixo de zero na Europa e no Japão, ontem. Rendimentos negativos hoje respondem por um quarto do índice de títulos públicos do JPMorgan.

O iene caiu em mais de 1,50 iene, para 120,80 ienes por dólar, enquanto o índice de ações Topix subia em quase 3% e fechava em 1.432 pontos. Em Nova York, o índice de ações S&P 500 subiu pouco mais de um 1% nas operações do final da manhã.

O BCE e o Banco da Inglaterra também sinalizaram estar dispostos a mudar sua posição de política monetária, e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) declarou esta semana que estava observando a turbulência mundial em busca de potenciais implicações para os Estados Unidos.

Haruhiko Kuroda, presidente do Banco do Japão, está determinado a resgatar o Japão de décadas de deflação intermitente, por meio de um imenso programa de estímulo monetário. No entanto, a inflação anualizada de dezembro não passou de 0,2%, e os sinais são de que no segundo trimestre as negociações coletivas quanto a salários não verão grandes aumentos.

"Por meio da taxa de juros negativa combinada ao relaxamento quantitativo, espero que possamos ajudar empresas e indivíduos a abandonar sua mentalidade deflacionária", disse Kuroda.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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