Folha de S. Paulo


Banco central do Japão surpreende mercado e adota taxa de juros negativa

Toshifumi Kitamura/AFP
Presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, durante anúncio do corte da taxa de juros
Presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, durante anúncio do corte da taxa de juros

O banco central do Japão cortou inesperadamente a taxa de juros para território negativo nesta sexta-feira (29), surpreendendo os investidores com outra medida audaciosa para reanimar a economia num cenário em que os mercados voláteis e a desaceleração do crescimento global ameaçam seus esforços para superar a deflação.

As ações asiáticas saltaram, o iene caiu e os títulos soberanos avançaram depois que o Banco do Japão disse que vai cobrar por uma porção das reservas que os bancos deixarem na instituição, uma política agressiva que teve como pioneiro o BCE (Banco Central Europeu).

"O importante é mostrar às pessoas que o banco central está comprometido em alcançar inflação de 2% e que vai fazer o que for preciso para alcançar isso", disse o presidente do banco central, Haruhiko Kuroda, em entrevista após a decisão.

Ao adotar taxa de juros negativa, o Japão está lançando mão de uma nova arma em sua longa batalha contra a deflação, que desde a década de 1990 desencoraja os consumidores a fazerem grandes compras porque esperam que os preços caiam mais. A deflação é considerada a raiz de duas décadas de mal-estar econômico. Antes, o país mantinha a taxa de juros próxima a zero.

Kuroda disse que a terceira maior economia do mundo está se recuperando de forma moderada e que a tendência de preços está subindo de modo firme.

"Mas existe o risco de que as recentes quedas nos preços do petróleo, incertezas sobre as economias emergentes, incluindo a China, e instabilidade nos mercados globais possa afetar a confiança empresarial e adiar a erradicação da mentalidade deflacionária do povo", disse ele.

Em uma decisão por 5 votos a 4, o Banco do Japão decidiu cobrar juros de 0,1% em depósitos de conta corrente selecionados que instituições financeiras mantiverem na instituição.

O banco central também disse em comunicado ao anunciar a decisão que cortará ainda mais a taxa de juros em território negativo se necessário.

Na última quinta-feira (27), o ministro da Economia Akira Amari renunciou ao cargo por causa de acusações de corrupção.

A renúncia representa uma derrota para o governo do premiê Shinzo Abe, que busca aquecer a economia e tirar o país da deflação.

Amari se viu envolvido em um escândalo de corrupção depois de a revista "Shukan Bunshun" informar que o ministro e seus assessores receberam suborno de ao menos 12 milhões de ienes (R$ 415 mil), em dinheiro e presentes, de uma empresa de construção cujo nome não foi revelado.


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