Folha de S. Paulo


Rendimento real do trabalhador cai após dez anos de avanço

Com a inflação alta e uma dinâmica desfavorável no mercado de trabalho, o rendimento real dos trabalhadores teve sua primeira queda desde 2004, após dez anos de ganhos anuais consecutivos.

O rendimento real -que já desconta a inflação- teve uma perda de 3,7% em 2015 frente ao ano anterior, para R$ 2.265,09, segundo dados divulgados pelo IBGE na manhã desta quinta-feira (28).

Trata-se da maior queda percentual da série histórica da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, iniciada em 2002.

Rendimento real habitual - Em R$

"Muitas pessoas perderam seu trabalho na indústria, setor que tem salários maiores. Quando a indústria dispensa, por exemplo, você impacta a renda também", disse Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

O maior vilão foi, contudo, o avanço da inflação, que fechou o ano em 11,28% pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Isso corroeu os salários dos trabalhadores.

A queda da renda se refere à média das seis principais regiões metropolitanas. Individualmente, porém, todas as regiões tiveram queda, com destaque para Belo Horizonte (-4,6%), Rio de Janeiro (-4%) e São Paulo (-4%).

O maior rendimento médio foi na região metropolitana do Rio de Janeiro (R$ 2.519,13), seguido por São Paulo (R$ 2.357,81). O Rio de Janeiro supera São Paulo desde 2013 nesse comparativo.

A massa de rendimento real dos trabalhadores foi de R$ 53,6 bilhões por mês na média do ano passado, uma queda de 5,3% frente ao ano anterior e a primeira baixa da série histórica.

Isso significa, na prática, que menos dinheiro fruto do trabalho circulou na economia, afetando as vendas de bens e serviços.

Em relatório aos clientes, a consultoria Rosenberg Associados avaliou que, do ponto de vista da atividade econômica e da sustentação do consumo, a "retração da massa salarial é crucial e corrobora as perspectivas negativas para 2016".

DEZEMBRO

No último mês do ano passado, a renda média real dos trabalhadores foi de R$ 2.235,50, uma queda de 5,8% na comparação ao mesmo mês do ano anterior, segundo dados da pesquisa.

Os trabalhadores do comércio perceberm a maior perda proporcional de seu rendimento, em 5,6% frente a dezembro de 2014, para R$ 1.782,90. Na indústria, a renda real caiu 6,5%, para R$ 2.297,30.

Vale lembrar que a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) acompanha as seis principais regiões metropolitanas do país e terá sua última divulgação em março, com dados referentes ao mês de fevereiro.


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