Folha de S. Paulo


Hidrovia Tietê-Paraná será reaberta após quase dois anos fechada pela seca

Antonio Crispim 2.fev.2015/O Liberal Regional
Vista em fevereiro do porto de Aracatuba, no rio Tiete, proximo da ponte da rodovia Elyeser Montenegro Magalhaes (SP-463). Foto: Antonio Crispim 2.fev.2015/O Liberal Regional ***Foto sem custo*** ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Porto de Araçatuba, no rio Tietê, em fevereiro de 2015

Após 20 meses interditada devido à seca, a hidrovia Tietê-Paraná, uma das principais vias de exportação do país, será reaberta para navegação nesta quarta-feira (27), pela Marinha, graças às chuvas das últimas semanas.

A interdição, feita em maio de 2014 pelo órgão, causou prejuízos de ao menos R$ 1 bilhão às empresas de navegação e tirou o emprego de cerca de 1.600 pessoas, além de afetar o transporte entre os usuários desse tipo de via.

VOLUME TRANSPORTADO - Em milhões de toneladas

Mas o que era para ser motivo de comemoração entre as empresas de navegação ainda causa preocupação, pois não há garantias de que a hidrovia estará imune a um novo rebaixamento de água.

O problema é que a mesma água usada na navegação é demandada para a geração de energia. Nos últimos meses, a prioridade foi usar o recurso nas hidrelétricas, em detrimento da hidrovia.

"Enquanto não tivermos a real garantia de que o nível da água não será mais reduzido, não vamos nos sentir seguros para investir de novo", diz Edson Palmesan, presidente do sindicato dos armadores do Estado de SP.

O transporte por hidrovia é uma das opções mais baratas para a logística: o custo costuma ser um quarto do valor do transporte rodoviário, para onde muitas empresas, sem a estrutura do modal ferroviário, tiveram que migrar.

O modal, que em 2013 transportou 6,2 milhões de toneladas em grãos (soja e milho, principalmente), celulose, madeira e cana, teve queda de 26,2% no volume transportado em 2014 e parou totalmente em 2015.

Segundo dados do setor, cerca de R$ 10 bilhões em produtos são transportados por ano pela hidrovia, que possui 2.400 km e atende SP, MG, MT, MS, PR e GO.

A suspensão da navegação foi tomada por causa do baixo calado (profundidade segura para a navegação) e do excesso de pedras no reservatório de Três Irmãos, entre o km 99,5 e a eclusa de Nova Avanhandava, no sentido SP.

No momento mais crítico, em 4 de fevereiro de 2015, o reservatório de Três Irmãos atingiu o nível de 318,85 m. Para a retomada da navegação, é preciso o nível mínimo de 325,40 m. Na última semana, ele chegou a 326,40 m.

SEGURANÇA

Dono da DNP Indústria e Navegação, Nelson Michielin afirma que empresas como a Cargill e a Caramuru, que comercializam grãos pela hidrovia, já o procuraram para retomar o transporte hidroviário.

Ele afirma, porém, estar receoso com o processo, principalmente com a falta de garantias para a navegação sustentável. "Não dá para investir por três meses e depois parar tudo novamente por falta de água", diz o empresário.

Sua capacidade de transporte é de 3 milhões de toneladas por ano. Devido à suspensão de 2015, demitiu cerca de 800 trabalhadores, metade do total calculado pelo sindicato dos trabalhadores em transporte fluvial de SP.

Editoria de arte/Folhapress

As embarcações estão paradas no rio Tietê, em Barra Bonita, e o prejuízo passou de R$ 80 milhões, diz ele. Michielin afirma que precisa fazer a manutenção das embarcações e que só deverá retomar a navegação em março.

Gigante do agronegócio e apontada como segunda maior usuária da hidrovia, a Louis Dreyfus Commodities já planeja a retomada do transporte pelo rio. Espera movimentar pela via 70% de toda a sua produção.

Em nota, a companhia disse ainda que pretende recontratar os antigos colaboradores. "Estamos em contato com eles. A hidrovia é um importante modal para o transporte de soja e milho de Goiás e Mato Grosso", informou.

OUTRO LADO

A Marinha do Brasil decidiu desinterditar a hidrovia Tietê-Paraná após a divulgação do nível no reservatório de Três Irmãos feita pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e o Departamento Hidroviário de São Paulo.

Na última semana, o nível no reservatório atingiu 326,40 m acima do nível mínimo necessário para a retomada da navegação, que é de 325,40 m. Já o calado (profundida segura) mínimo para a navegação deve ser de 2,70 m.

Em nota, a Marinha informa que, diante da iminente desinterdição, convocou uma reunião com o setor e abordou temas como a segurança da navegação, a prevenção da vida e a poluição hídrica.

Já a ANA (Agência Nacional de Águas) afirma que espera até abril a CTG (China Three Gorges), empresa que ganhou a concessão para operar as hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá na hidrovia, pedir outorga operacional.

Por meio dessa licença, de acordo com a nota da agência, poderão ser garantidas as condições de operação das usinas hidrelétricas que atendam a todos os usos da bacia, inclusive a navegação, com regras claras para períodos de poucas chuvas.

O ONS, por sua vez, informa em nota que a operação de Ilha Solteira com fins energéticos é fundamental para a segurança do abastecimento elétrico nacional, e que espera o retorno da navegação de forma sustentável em breve.

O secretário de Logística e Transportes de SP, Duarte Nogueira, diz que publicará em fevereiro uma licitação de R$ 287 milhões para obras de retirada das pedras no reservatório de Três Irmãos.

Com isso, a navegação poderá ser liberada com o nível em 323 m. A obra será feita no prazo de 29 meses, considerando os períodos de reprodução dos peixes. Serão retirados dois metros de pedra do subterrâneo.


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