"Como você fez tudo isso?", perguntou a farmacêutica Marina Lemos da Cunha, 25, para o publicitário Felipe Bittar, 26, logo antes de ela mesma responder à pergunta que ele havia feito: "Sim, eu aceito". O "tudo isso" a que Cunha se referiu era a estrutura para o pedido de casamento que acabara de aceitar.
A cenografia para o pedido era profissional: um bangalô numa praia em Morro de São Paulo, na Bahia, com um caminho de velas que levava até um jantar romântico e um livro de recortes com fotos e documentos dos seis anos de namoro do casal, um paparazzo escondido para documentar o momento do pedido e uma câmera acoplada na caixinha da aliança, para garantir uma filmagem em tempo real da cara da noiva.
O esquema foi profissional porque tinha o dedo de um profissional por trás: o pedido havia sido concebido pela O Pedido. Fundada em 2014, a empresa reporta ter bolado pedidos de casamento para mais de 50 clientes que preencheram seu formulário on-line, que inclui a música predileta do casal. O crescimento autorreportado é de mais de 100% em um ano (de crise).
Alan Marques - 15.jan.2016/Folhapress | ||
Procurador André Ramos fechou sala de joalheria para pedir Fabíola em casamento |
"A procura só cresce", diz Bruna Brito, uma das sócias da empresa. "Em 2015, tivemos mais do dobro da procura, se compararmos com 2014."
O aquecimento do mercado trouxe mais pretendentes para o nicho. Aberta em setembro último, a She Said Jazz é derivada de uma agência especializada em realizar desejos de difícil execução, como jogar uma partida de tênis com a lenda Pete Sampras (realizado).
Mayra Miranda, que trabalhou no marketing da Schutz e da Nestlé antes de empreender, explica que a equipe de sete pessoas da She Said Jazz deve crescer para dez nos primeiros meses de 2016. A inauguração do novo braço foi um dos fatores que levou a empresa a fechar 2015 com um crescimento de 15% no faturamento, que havia sido de R$ 3,5 milhões no ano anterior.
DISNEY ROMÂNTICA
O primeiro contato entre cliente e empresa se dá pela internet, onde o futuro noivo preenche um questionário sobre os gostos do casal, para ajudar as consultoras a pensarem no evento ideal.
O pedido mais simples custa por volta de R$ 5.000 nas agências. Só o céu é o limite para os mais salgados. Até o céu parisiense, para o cliente que fechou a Torre Eiffel por duas horas e desembolsou cerca de € 60 mil no pedido, que ainda envolvia um passeio de barco pelo rio Sena.
Focada num público com menor poder aquisitivo, a empresa de Bruna Brito lançou nas últimas semanas kits temáticos para a ocasião. "Cinema em casa" e "degustação de vinhos" são dois dos temas. As caixas, enviadas pelos Correios, custam a partir de R$ 200 e incluem paramentos para o pedido, mas não o anel. "Vemos que está funcionando com casais que querem ter uma noite especial, mas talvez as pessoas queiram abrir mais a mão na hora de pedir a mão", diz a empresária.
Já a concorrente oferece um pacote com caça ao tesouro na Disneyworld, sendo o tesouro um par de alianças. Custa US$ 3.000. É o bestseller da empresa, mesmo em tempos de dólar quadruplicado em real.
O pedido não tem grande margem de lucro, diz Mayra Miranda, da She Said Jazz. " Às vezes fica quase no zero a zero. Mas é bom para conquistar o cliente e fazer o resto da cadeia", afirma, referindo-se à viagem de lua de mel e outros serviços oferecidos por sua agência.
O público-alvo das empresas do nicho é homem e com poucas ideias de como propôr parceria. "A maioria vem com um briefing muito cru. Às vezes, nem isso", diz Miranda. Bruna Brito, d'O Pedido, concorda: "Eles precisam de uma ajudinha com o conceito também, no mais das vezes". Há exceções, como o procurador André Ramos, 37.
Ramos já sabia que o filme predileto da namorada, a analista jurídica Fabíola Böhmer Ramos, 35, era "Bonequinha de Luxo" e que desejava fazer algo ligado à história de amor da personagem de Audrey Hepburn com uma joalheria.
Procurou a She Said Jazz um mês antes de ir para Nova York e contou sobre a vontade. Pelo preço de uma aliança da Tiffany em Brasilia, onde ele mora, conseguiu fechar uma sala da joalheria da Quinta avenida nova-iorquina, que aparece no filme, comprar o anel e ainda contratar um paparazzo para fotografar a cena.
"Hoje com a internet quase tudo a gente faz sozinho, mas a logística e os contatos são importantes", diz o noivo, "e foi nisso que eles me ajudaram".
Ele afirma que repetiria o investimento, até porque a resposta foi positiva —nenhuma das empresas ressarce o dinheiro em caso de a pergunta "Você quer se casar comigo" ser respondida com um "não".