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Demanda por títulos da AB InBev dispara para recorde de US$ 110 bilhões

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Garrafas de cervejas produzidas pela AB Inbev e pela SABMiller. AFP PHOTO/JUSTIN TALLIS ORG XMIT: 003
Garrafas de cervejas produzidas pela AB Inbev e pela SABMiller

A Anheuser-Busch InBev atraiu uma demanda recorde de US$ 110 bilhões para uma emissão de títulos empresariais no valor de US$ 46 bilhões, no momento em que os investidores se apressam para aplicar seus recursos na relativa segurança das dívidas corporativas norte-americanas enquanto começa um novo ano de turbulência nos mercados.

A receptividade ao negócio, que foi anunciado uma semana após as ofertas de Ford e Walt Disney, sugere que os investidores estão se afastando de áreas de maior risco do mercado, como ações e commodities, e estão aumentando sua exposição em companhias com balanços financeiros sólidos.

A oferta da cervejaria, que vai ajudar a financiar a tomada do controle acionário da rival SABMiller, ultrapassou os US$ 102 bilhões que o grupo de telecomunicações Verizon atraiu ao emitir US$ 49 bilhões em títulos em 2013 —a maior da história.

Inicialmente, a AB InBev anunciou que emitiria US$ 25 bilhões em títulos, mas elevou a oferta em mais de 80%, para US$ 46 bilhões, em razão da forte demanda.

GUERRA DA CERVEJA - Divisão do mercado da cerveja, em %

"É bastante positivo para os mercados de crédito que uma transação dessa ordem esteja chegando, diante da volatilidade que vimos recentemente", disse Mitch Reznick, codiretor de crédito na administradora de investimentos Hermes.

O montante de vendas de títulos empresariais vem crescendo rapidamente nos últimos anos, quando quantias recorde do dinheiro dos investidores de varejo começaram a afluir aos fundos de renda fixa. o boom nas atividades mundiais de fusão e aquisição em 2015 promoveu alta considerável nas grandes emissões de títulos, com valor de pelo menos US$ 10 bilhões.

A fusão entre a AB InBev, sediada na Bélgica, e a SABMiller, sediada no Reino Unido, vai criar o maior produtor mundial de cerveja e foi acertada em novembro, por um preço total de US$ 108 bilhões.

O montante de vendas de títulos empresariais vem crescendo rapidamente nos últimos anos, quando quantias recorde do dinheiro dos investidores de varejo começaram a afluir aos fundos de renda fixa. A maior emissão de títulos empresariais já realizada envolveu US$ 49 bilhões em títulos da Verizon em 2013, mas o boom nas atividades mundiais de fusão e aquisição em 2015 promoveu alta considerável nas grandes emissões de títulos, com valor de pelo menos US$ 10 bilhões.

Desde o início do ano as Bolsas mundiais caíram mais de 6%, enquanto o preço do petróleo teve desvalorização de 18%, para US$ 30 o barril, em meio aos temos sobre a desaceleração da economia chinesa.
"O mercado está dizendo o que quer e o que ele quer são fluxos fortes e estáveis de receitas que não tenham nada a ver com commodities", afirmou Matthew Brill, gestor de portfólios da Invesco.

Nesta quarta, uma oferta de US$ 21 bilhões de títulos do governo dos Estados Unidos com prazo de dez anos também apresentou forte demanda de investidores institucionais.

Estimativas sugerem que será necessário levantar cerca de US$ 60 bilhões nos mercados mundiais de crédito, quer por meio de um aumento no valor da emissão anunciada hoje, quer por um retorno posterior aos mercados dos Estados Unidos, quer pelo recursos aos mercados do euro e da libra.

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"O cupom de uma transação em euros seria atraente para eles, e por isso não me surpreenderia que algo parecido fosse anunciado já amanhã", disse Chris Telfer, administrador de carteira de investimento na ECM.

A orientação inicial aos investidores sugere que o título de 10 anos terá ágio de 160 pontos básicos sobre o título do Tesouro norte-americano de prazo semelhante, o que implica um cupom de cerca de 3,69%.

A agência de classificação de risco Moody's concedeu uma nota provisória de A3 aos títulos, um nível abaixo da atual classificação da companhia.

"[A nota] reflete principalmente o endividamento significativo e a alta alavancagem resultante em que a ABI incorrerá para financiar o acordo", disse Linda Montag, analista da Moody's.

De acordo com ela, a expectativa é que a companhia aumente sua dívida líquida para cinco vezes seus ganhos antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Depois, essa medida cairia para quatro vezes, "o que ainda é bastante alto para uma companhia que possui grau de investimento".

Tradução de PAULO MIGLIACCI e GIULIANA VALLONE


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