Folha de S. Paulo


Comerciantes apostam na expansão de moeda virtual no Brasil

Moacyr Lopes Junior - 18.nov.2015/Folhapress
Adolfo Delorenzo, dono da The Brownie Shop, que passou a aceitar pagamentos com a bitcoin
Adolfo Delorenzo, dono da The Brownie Shop, que passou a aceitar pagamentos com a bitcoin

O ano de 2015 foi movimentado para o bitcoin. Criada há seis anos, a moeda digital, que chegou a ultrapassar os US$ 1.000 por unidade em seu auge, no fim de 2013, começou o ano passado vendida a US$ 178 –uma perda de mais de 80% de seu valor.

De lá para cá, voltou a se valorizar e atingiu US$ 452, atraindo a atenção de grandes empresas e instituições financeiras, levando algumas a decretarem que a moeda caiu nas graças do mercado.

No Brasil, onde o bitcoin é negociado atualmente por R$ 1.909, as transações devem bater recorde em 2015, atingindo R$ 70 milhões, de acordo com estimativas da empresa de monitoramento Bitvalor. E participantes do mercado apostam na crise econômica e na popularização de suas vantagens para elevar ainda mais a presença da moeda no país.

Um dos empenhados nesse objetivo é Michael Dunworth, presidente-executivo da Snapcard, uma start-up com sede em São Francisco (EUA) cujo lema é "tornar o bitcoin fácil para todos". A empresa começou a operar em território brasileiro em setembro, em parceria com a Pagpop, especializada em pagamentos por meio de smartphones e tablets.

Em razão dos contratos que a Pagpop já possuía, a entrada da Snapcard no país elevou, de um dia para o outro, o número de comerciantes que aceitam a moeda digital: de 150 para 15 mil. Agora, diz a start-up norte-americana, é possível comprar móveis, roupas e eletroeletrônicos, por exemplo, com o bitcoin.

Para este ano, a meta é que sejam 100 mil negócios. A empresa quer atrair 500 mil usuários brasileiros até o fim de 2016 para sua carteira móvel, um dispositivo para gerir seus bitcoins.

"Queremos começar com os comerciantes, para implementar primeiro a infraestrutura. Assim, quando os usuários vierem, poderão usar [o bitcoin] o quanto quiserem", diz Dunworth.

Para ele, a maior vantagem para os negócios é a taxa menor cobrada sobre as transações com bitcoin, se comparadas às que devem ser pagas às empresas de cartões.

"Se o meu cliente está usando bitcoin, eu vou receber na hora e pagar só 0,5% do valor como taxa. Comparando isso com os cartões de crédito, você economiza muito", diz Dunworth. Essa economia permite, também, que o lojista possa dar descontos ao cliente que paga com a moeda digital, afirma.

SEM FRONTEIRA

O interesse pessoal pelo bitcoin e seu potencial como "moeda sem fronteira", além dos benefícios financeiros, levaram Adolfo Delorenzo, proprietário da The Brownie Shop, em São Paulo, a adotar a novidade como meio de pagamento em sua loja.

"O custo de utilizar o bitcoin é muito baixo. Enquanto eu pago de 3% a 7% de taxa em outros meios de pagamento, no bitcoin as transações custam centavos", diz. Hoje, ele faz vendas na moeda semanalmente.

Delorenzo, que criou um aplicativo próprio para utilizar o dinheiro digital, acredita que iniciativas como a sua, que promovem o bitcoin e suas vantagens, serão essenciais para fazer a moeda ganhar espaço no país.

Na Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), uma parceria com a Pagcoin, empresa de pagamentos eletrônicos, permite que os interessados nos cursos de curta duração Shift, sobre tecnologia, inovação e negócios, façam suas inscrições usando a moeda digital.

Para ter maior adesão, a faculdade oferece 10% de desconto a alunos que pagarem com bitcoin.

"A iniciativa parte da premissa de que a Fiap é focada em tecnologia. Estamos sempre atrás de novidades nessa área e buscamos testá-las antes que ganhem espaço no mercado", diz o professor Leandro Rubim.

Mas, embora as possibilidades de pagamento com o bitcoin estejam se expandindo no Brasil, a moeda digital ainda atrai, basicamente, aqueles que já se interessam por tecnologia e inovação.

"O bitcoin como meio de pagamento ainda é muito incipiente", diz Michael Viriato, professor de finanças do Insper. "Um médico que sai anunciando que agora aceita a moeda está fazendo isso como forma de propaganda. Mas quantas pessoas vão realmente pagá-lo assim?"

Rodrigo Batista, presidente-executivo do Mercado Bitcoin, site de compra e venda de moedas digitais, admite que o uso ainda é restrito ao público ligado à tecnologia.

"Cabe a nós tornar esse meio de pagamento mais fácil, de forma a atrair mais gente", diz Batista, cuja meta é chegar a 250 mil usuários no site até o fim deste ano –hoje, são 100 mil.

Ele aponta, no entanto, que está crescendo o número de prestadores de serviços que estão recorrendo ao bitcoin para receber por trabalhos executados no exterior. "Para essas pessoas, é mais barato e garantido receber com bitcoin. Você tem certeza do recebimento".


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