Folha de S. Paulo


Moeda da China continua a caminho de maior enfraquecimento

Rolex Dela Pena/Efe
Investidor observa painel de uma casa de corretagem em Pequim, na China
Investidor observa painel de uma casa de corretagem em Pequim, na China

A China estabeleceu o valor diário de referência do yuan abaixo dos 6,5 yuan por dólar pela primeira vez em mais de quatro anos, nesta segunda-feira (4), em um sinal de que a fraqueza que a moeda enfrentou no ano passado deve continuar a ser uma tendência no mercado com a chegada de 2016.

O valor de referência é a cotação central em torno da qual a moeda chinesa é autorizada a flutuar em até 2%, para mais ou para menos. Com esse sistema, o governo chinês busca impedir mudanças bruscas no valor da moeda, assim como mantê-la sob seu controle.

O interesse internacional pelo yuan cresceu acentuadamente em 2015 depois de uma desvalorização anunciada de surpresa em agosto que abalou os mercados mundiais.

Estima-se que a China tenha gasto US$ 200 bilhões ou mais de suas reservas cambiais para estabilizar sua moeda como consequência, mas do começo de novembro para cá as autoridades chinesas vêm permitindo uma desvalorização gradual.

Na segunda-feira, o Banco Popular da China [banco central] estabeleceu o primeiro valor de referência do ano novo em 6,5032 yuan por dólar, o que representa queda de 0,15% ante a taxa de câmbio anterior.

O yuan negociado fora da China, que não enfrenta as mesmas restrições em termos de faixa de flutuação do que a versão interna da moeda, caiu de modo mais acentuado, em 0,6%, para 6,613 yuan por dólar —sua cotação mais baixa em cinco anos.

A segunda-feira também marca o início de um pregão mais longo para a versão interna do yuan, que estenderá as atividades do mercado oficial para além da tarde chinesa e as conduzirá até a manhã de Londres.

Os analistas antecipam que a moeda da China continuará fraca, dada a queda no crescimento econômico do país. O índice Caixin/Markit, que acompanha as compras de suprimentos pelas empresas chinesas, atingiu os 48,2 pontos em dezembro, de acordo com anúncio feito na segunda-feira, abaixo dos 48,6 pontos de novembro e das projeções de 48,9 pontos.

Resultados abaixo dos 50 pontos indicam contração da economia. O resultado se seguiu aos números oficiais quanto às compras de suprimentos pelas empresas, na sexta-feira, que mostrou contração pelo quinto mês consecutivo, para dezembro.

"Já que a expectativa é de que o crescimento real do PIB caia ainda mais abaixo dos 7% este ano, a China provavelmente continuará a cortar suas taxas de câmbio. Por isso, as expectativas quanto ao yuan continuam fracas", escreveram analistas do banco DBS.

Os dados sombrios garantiram que as ações chinesas começassem o ano apontando queda, com o índice de Xangai caindo 6,86%, para 3.296 pontos. E o de Shenzhen teve baixa de 8,22%, para 2.119 pontos. As quedas acentuadas e rápidas fizeram com que o pregão do dia fosse suspenso.

Medido com base no valor diário de referência, o yuan de uso no mercado interno caiu em 5,8% diante do dólar em 2015, enquanto a taxa de câmbio da versão internacional da moeda caía em 5,4%.

Como parte dos esforços para conquistar reconhecimento internacional para o yuan, a China vem ampliando a gama de moedas diante das quais os investidores acompanham o yuan, ainda que a taxa de câmbio para com o dólar continue a ser considerada como principal indicador dos movimentos da moeda.

A velocidade e profundidade do enfraquecimento do yuan também estão sendo acompanhados com atenção em toda a região, dado o crescente impacto econômico da China. O choque de agosto levou o Vietnã a desvalorizar sua moeda, o dong, e o Cazaquistão a abandonar de vez a sua âncora cambial.

Na segunda-feira, o Vietnã anunciou mudança em sua metodologia de âncora cambial e afirmou que permitiria que a taxa acomodasse melhor os movimentos das grandes moedas internacionais, entre as quais a da China. O Vietnã registrou seu primeiro deficit comercial em três anos, em 2015.

"Acreditamos que a nova metodologia permitirá ajustes mais frequentes, mas menores, do dong", disse Eugenia Fabon Victorino, economista do banco ANZ.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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