Folha de S. Paulo


Fundo cambial lidera ranking de 2015 com alta do dólar; Bolsa é lanterna

Um dos principais termômetros das crises política e econômica que afetaram o Brasil no ano, o dólar foi o grande responsável pela primeira colocação dos fundos cambiais no ranking de investimento da Folha em 2015. O levantamento desconta Imposto de Renda. Quando há perda, o IR não é cobrado.

Com a alta de 49,4% do dólar no ano, os fundos cambiais acumularam ganho de 37,72% em 12 meses (após desconto de Imposto de Renda, que é de 17,5% na modalidade). Em dezembro, caíram 0,33%.

Apesar de se beneficiar do atual contexto de valorização do câmbio, a aplicação em fundo cambial é mais indicada a quem precisa se proteger da oscilação do dólar ou do euro. É o caso das pessoas que têm despesas programadas em moeda estrangeira —como um filho que mora no exterior, por exemplo.

Fora dessa circunstância, o produto não é recomendado por consultores como alternativa a pequenos investidores, uma vez que o preço do dólar oscila muito e as taxas de juros, que remuneram a renda fixa, estão elevadas —atualmente, a Selic (taxa básica de juros) está em 14,25% ao ano. Vale destacar ainda que a rentabilidade passada não é garantia de rendimento futuro.

Ranking de investimentos - Fundos cambiais lideram ganhos em 2015

Por outro lado, a Bolsa brasileira encerrou 2015 com queda de 13,3% e fechou em baixa pelo terceiro ano seguido. Com isso, a lanterna do ranking foi ocupada pelos fundos de ações livres, alternativa para o pequeno investidor que aplica em Bolsa. O investimento teve queda de 3,03% em 12 meses e de 1,48% no mês. Esses fundos são livres para aplicar em ações que não precisam necessariamente fazer parte do principal índice da Bolsa.

A inflação medida pelo IPCA (índice oficial) foi de 10,48% nos 12 meses encerrados em novembro. A perspectiva é que a inflação encerre 2015 a 10,72%, segundo a mais recente pesquisa do Banco Central com economistas (o Boletim Focus). Para dezembro, a projeção é de que o IPCA acelere para 1%.

Além do desempenho no mês, que ajuda a identificar as principais influências momentâneas sobre os investimentos, o retorno em 12 meses é considerado no levantamento da Folha como forma de avaliar o desempenho dos investimentos em um prazo maior. Manter uma aplicação por pelo menos um ano também reduz a alíquota de IR a pagar em alguns casos. Os dados são da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e estão atualizados até o dia 28 de dezembro.

DÓLAR

O ano foi marcado pela instabilidade no mercado cambial. O impasse entre governo e Congresso e a consequente demora para aprovar as medidas de ajuste fiscal provocaram picos de valorização da moeda americana, devido à percepção de aumento de risco do país. Em setembro, o dólar chegou a encostar em R$ 4,25, mas fechou o ano cotado a R$ 3,95.

A alta recorde ocorreu poucas semanas após o país perder o selo de bom pagador concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor's. Em dezembro, foi a vez de a Fitch fazer o mesmo.

A saída de recursos investidos no Brasil fez com que o dólar subisse no segundo semestre do ano, especialmente após a perda do primeiro grau de investimento. Boa parte dos grandes fundos de investimento exige o selo de pelo menos duas agências para manter suas aplicações no país, mas, antecipando que o Brasil perderia seu segundo selo de bom pagador, os investidores começaram a retirar seus recursos já em setembro.

Ainda no campo político, após vários rumores que correram ao longo do ano, Joaquim Levy decidiu anunciar em dezembro sua saída do governo, após o país perder o segundo grau de investimento. A escolha de Nelson Barbosa, então no Ministério do Planejamento, para substituir Levy desagradou ao mercado e fez o dólar bater novamente R$ 4.

Embora contenha forte componente doméstico, a valorização do dólar ante a maioria das moedas mundiais deu a tônica no ano. Entre 157 divisas de todo o mundo, o dólar só perdeu força ante 14.

E entre as 24 principais moedas emergentes, apenas uma fechou em alta em relação à divisa americana em 2015 —o dólar de Hong Kong. O real foi a segunda moeda emergente que mais se desvalorizou em relação ao dólar, atrás apenas do peso argentino.

Essa valorização teve como pano de fundo a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de elevar sua taxa de juros pela primeira vez desde 2006. Com a maior remuneração gerada após o aumento dos juros, os títulos americanos passaram a atrair recursos aplicados nos países emergentes, de maior risco, pressionando a alta do dólar.

Em 2016, a expectativa é de um ano mais calmo no mercado cambial. Nem o esperado rebaixamento pela agência de classificação de risco Moody's —a única que ainda concede grau de investimento ao Brasil— deve pressionar o dólar, visto que o grande problema seria perder o selo de bom pagador em duas agências, o que já ocorreu. O boletim Focus estima que a moeda americana encerrará 2016 em R$ 4,20.

Os únicos fatores que podem causar turbulências no dólar seriam um ritmo mais intenso de alta nos juros nos EUA —o mercado estima aumentos graduais— e uma desaceleração maior que a prevista da economia da China.

OURO

Impulsionado pela valorização do dólar, o ouro fechou o ano na segunda colocação do ranking da Folha. A commodity registrou ganho de 33,6% em 2015 e teve alta de 2,65% em dezembro.

O metal é isento de IR para movimentações até R$ 20 mil no mês e tem seu preço formado pela cotação da moeda americana e pelo valor do ouro no exterior. Lá fora, o preço da onça troy caiu cerca de 10% no ano, mas a queda foi compensada pela alta de quase 50% do dólar no Brasil.

Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas. O grama hoje está R$ 135,5. Quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 33.875. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal.

O metal é considerado uma opção segura de investimento e, por isso, é mais procurado em momentos de instabilidade no mercado financeiro, como o atual.

RENDA FIXA

A elevação da taxa básica de juros (Selic) de 12,25% ao ano para 14,25% ao ano impulsionou o ganho dos fundos de renda fixa. Vale lembrar que, em outubro, os fundos ganharam nova classificação da Anbima.

Entraram as seguintes categorias: renda fixa simples —voltada ao pequeno investidor—; renda fixa duração baixa grau de investimento —fundos que aplicam pelo menos 80% em títulos públicos ou ativos com baixo risco de crédito— e renda fixa duração baixa soberano —que investem 100% em títulos públicos.

Em 12 meses, o maior ganho entre os fundos acompanhados pela Folha foi do renda fixa simples, com rentabilidade de 11,48% (após o desconto de IR). Em dezembro, o retorno foi de 0,85%.

Os fundos de renda fixa duração baixa grau de investimento e o soberano registraram ganhos de 11,06% e 10,82% em 12 meses, respectivamente. No mês, ambos tiveram valorizações de 0,80%, após desconto de IR.

A poupança —tanto para depósitos até 3 de maio de 2012 quanto após essa data— rendeu 8,07% em 12 meses e 0,73% no mês.

BOLSA

O principal índice da Bolsa brasileira completou seu terceiro ano de queda. Em 2015, a desvalorização foi de 13,3% —em dezembro, a baixa foi de 1,63%.

Como o dólar, o Ibovespa também foi fortemente afetado pela crise política que prejudicou a aprovação das medidas de ajuste fiscal necessárias para equilibrar as contas do governo.

A recessão que o país atravessa, agravada pelo inflação elevada e pelo aumento do desemprego, impacta o resultado das companhias -afetando a cotação das ações de empresas listadas em Bolsa.

A Petrobras, mergulhada em uma séria crise devido ao desenrolar da Operação Lava Jato, encerrou o sexto ano seguido com desvalorização de suas ações. Os papéis preferenciais -mais negociados e sem direito a voto- amargaram queda de 33,1% no ano. As ações ordinárias -com direito a voto- acumularam queda de 10,6% em 2015.

Fora a crise que afeta a empresa, a queda dos preços do petróleo também contribuiu para a estatal fechar mais um ano no vermelho. O barril do Brent, negociado em Londres, fechou o ano com baixa superior a 36%, no menor nível desde 2009. O WTI, dos EUA, teve desvalorização de 31,7% e ficou no menor patamar desde 2004.

As ações da mineradora Vale caíram pelo terceiro ano seguido. Os papéis preferenciais acumularam perda de 46,7% no ano. Já os papéis ordinários recuaram 40,5%. Além da desvalorização dos preços do minério de ferro, a Vale também foi afetada pela tragédia em Mariana (MG), no maior desastre ambiental registrado no país. Na ocasião, uma barragem da mineradora Samarco, que tem como sócias a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, se rompeu.

Na avaliação de especialistas, a instabilidade do mercado acionário torna mais atraentes para o pequeno investidor as opções na renda fixa, aproveitando a alta taxa de juros desses produtos.

"Não vejo mudança significativa para a Bolsa. Deve oscilar entre 40 e 45 mil pontos em 2016 [o Ibovespa fechou 2015 a 43.349 pontos]. A única chance de subir bem é com uma mudança do governo", avalia Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Capital Asset.

"Uma decisão que signifique a manutenção desta estagnação política reforça o cenário de que a aplicação em renda fixa e em juros pós-fixados será muito mais interessante do que aplicar na Bolsa", completa.


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