Folha de S. Paulo


Dólar fecha no maior valor em quase três meses com Barbosa na Fazenda

Pedro Ladeira/Folhapress
Coletiva dos Ministros Nelson Barbosa e Joaquim Levy sobre corte de gastos. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda) em entrevista coletiva

O dólar fechou em alta nesta segunda-feira (21), no maior valor em quase três meses, com a avaliação pessimista do mercado em relação ao novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que substituiu Joaquim Levy no comando da pasta.

As taxas dos contratos de juros futuros também subiram, enquanto o principal índice da Bolsa brasileira afundou pelo segundo dia.

O temor do mercado é que Barbosa ceda a pressões do governo Dilma para dar apoio a medidas "extremas" em busca de fazer a economia voltar a crescer a qualquer custo.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia em alta de 1,89%, para R$ 4,014 na venda. É o maior valor desde 29 de setembro, quando valia R$ 4,097.

Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,89%, para R$ 4,024. Também é o maior valor desde 29 de setembro, quando valia R$ 4,059.

Ambas as cotações atingiram máximas na casa de R$ 4,04 na sessão, logo após declarações de Barbosa, no início da tarde. Em conferência telefônica organizada pelo banco JP Morgan, Barbosa tentou, sem sucesso, tranquilizar os investidores sobre o ajuste fiscal.

DÓLAR
Saiba mais sobre a moeda americana
NOTAS DE DÓLAR

O novo ministro disse que será perseguida a meta de superavit primário de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2016. Antes de deixar o cargo, Levy defendia meta de superavit de pelo menos 0,7% do PIB no próximo ano.

Barbosa também afirmou que o governo deve enviar no começo de 2016 uma proposta de reforma da Previdência ao Congresso, com idade mínima para aposentadoria.

"O novo ministro da Fazenda tenta passar discurso de continuidade dos ajustes fiscais. De qualquer forma, não parece convencer os investidores", disse o estrategista da Guide Investimentos Luis Gustavo Pereira, em relatório.

À frente da Fazenda, Barbosa deve ceder a pressões do PT (Partido dos Trabalhadores), segundo Pereira.

"Acredita-se que, diante do contexto atual, Barbosa possa dar uma guinada em direção ao que ficou rotulado como 'Nova Matriz Econômica' [juro baixo e maior gasto público], ainda que ele recuse falar destes termos", afirmou o estrategista. Seria uma tentativa de resgate da popularidade do governo Dilma Rousseff.

Para João Pedro Brügger, analista da Leme Investimentos, Barbosa não falou "nada diferente do imaginado", e o mercado espera mais medidas e menos discursos.

"Foi um discurso raso. Só aumentou a aversão ao risco entre os investidores. O governo sabe que alguma coisa tem que ser feita, mas no momento está se preocupando em tentar se manter no poder. Enquanto não houver clareza sobre a resolução dessa crise política, algo que faça o país voltar a ter perspectiva, a Bolsa vai continuar patinando", disse.

O Banco Central deu continuidade nesta sessão aos seus leilões diários de swaps cambiais para estender os vencimentos de contratos que estão previstos para o mês que vem. A operação, que equivale a uma venda futura de dólares, movimentou US$ 546,7 milhões.

No mercado de juros futuros, os contratos fecharam em alta na BM&FBovespa. O DI para fevereiro de 2016 subiu de 14,269% a 14,279%, enquanto o DI para julho de 2016 avançou de 15,135% a 15,250%. Já o DI para janeiro de 2021 apontou taxa de 16,570%, ante 16,330% na sessão anterior.

BOLSA

O principal índice da Bolsa brasileira recuou nesta segunda, após a forte perda de quase 3% registrada na sessão anterior, influenciado pela troca de comando na Fazenda. O Ibovespa caiu 1,62%, para 43.199 pontos.

O volume financeiro foi de R$ 8,2 bilhões no dia, impulsionado pelo vencimento de opções sobre ações (quando vencem contratos que apostam no valor futuro dos papéis), que girou R$ 2,67 bilhões.

O desempenho do índice foi pressionado pela desvalorização de 5,41% das ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, para R$ 6,64 cada uma. As ordinárias, com direito a voto, cederam 4,04%, a R$ 8,31.

Os bancos também empurraram o Ibovespa para baixo. Este é o setor com a maior participação dentro do índice. Fecharam no vermelho o Itaú (-1,86%), o Bradesco (-2,90%), o Banco do Brasil (-6,52%) e o Santander (-1,15%).

As ações preferenciais da mineradora Vale tombaram 6,53%, para R$ 9,74 cada uma. Já as ordinárias tiveram perda de 4,65%, a R$ 12,29.


Endereço da página:

Links no texto: