Folha de S. Paulo


Cervejaria Kirin projeta primeiro prejuízo anual por crise no Brasil

Divulgação
Garrafa da Kirin Ichiban, cerveja japonesa que será produzida no Brasil
Garrafa da Kirin Ichiban, cerveja japonesa que será produzida no Brasil

A aquisição da Schincariol, segunda maior fabricante de cerveja do Brasil, pela Kirin está sendo questionada novamente, depois que a produtora japonesa de bebidas alertou para o primeiro prejuízo anual em sua história, por conta da deterioração de seus negócios no Brasil.

A companhia projetou na segunda-feira (21) um prejuízo anual de 56 bilhões de ienes (US$ 462 milhões), revisando uma previsão anterior de lucro de 58 bilhões de ienes. Será a primeira vez que a Kirin fecha o ano no vermelho desde que abriu seu capital, em 1949.

A fabricante japonesa de cerveja atribui o problema à queda acentuada do real e às condições econômicas precárias no Brasil. Economistas consultados pelo Banco Central brasileiro anteciparam uma contração de 3,6% no PIB (Produto Interno Bruto) do país este ano, e nova queda de 2,7% em 2016.

A Kirin também enfrenta a feroz concorrência da Ambev, a divisão latino-americana da Anheuser-Bush InBev.

Nos nove primeiros meses do ano, as vendas da Kirin no Brasil caíram 23% e seu prejuízo operacional cresceu até 5,4 bilhões de ienes, ante prejuízo de 600 milhões de ienes no período um ano antes.

A Kirin, segunda maior fabricante de cerveja do Japão, foi um dos mais agressivos compradores de ativos estrangeiros no período 2006-2011, buscando alternativas a um mercado interno envelhecido e em contração.
No período, a empresa executou mais de 20 transações, entre as quais a compra da fabricante australiana de cerveja Lion Nathan e a da National Foods - subsequentemente fundida com a Lion -, e a aquisição de uma participação acionária de 48% na San Miguel Brewery, das Filipinas.

Mais recentemente, o grupo japonês fechou acordo para adquirir os 55% de participação da Fraser and Neave na Myanmar Brewery, por US$ 560 milhões em agosto.

No entanto, a Kirin agora deixou de lado as grandes aquisições, enquanto luta por reverter a situação de suas operações no Brasil. Os céticos há muito questionavam se a Kirin seria capaz de recuperar o gasto de US$ 3,9 bilhões que registrou para a adquirir a Schincariol. Foi uma transação contenciosa, na qual a Kirin teve de lutar contra membros dissidentes da família Schincariol, que tentaram obter uma liminar da Justiça contra a aquisição.

Na segunda-feira, a Kirin anunciou que continuaria a tentar reforçar sua marca e a tornar mais eficientes os seus canais de distribuição, e não descartou a hipótese de um corte em sua força de trabalho no Brasil. A Kirin afirmou não ter planos de vender o negócio.

As ações da Kirin fecharam em alta de 3,1% em Tóquio, depois de uma queda de quase 4% durante o dia, quando reportagens alertaram sobre o possível prejuízo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página: