Folha de S. Paulo


Pesquisa para agronegócio reduz seu ritmo no Estado de São Paulo

Ze Carlos Barretta - 24.set.2015/Folhapress
Cafezal no terreno do Instituto Biológico, um dos sete centros de pesquisa em agronegócio em SP
Cafezal no terreno do Instituto Biológico, um dos sete centros de pesquisa em agronegócio em SP

Pesquisas para produzir a mandioca rica em vitamina A ou o café que já sai do pé sem cafeína pararam. Laboratórios fecharam ou operam parcialmente; equipamentos estão sem manutenção.

Nos sete institutos de pesquisa em agronegócio do Estado de São Paulo, o número de pesquisadores e técnicos caiu 49% desde o ano 2000: de 3.387 para os atuais 1.728.

O último concurso público foi há dez anos e, segundo a APQC (associação dos pesquisadores), pesquisadores têm pedido demissão para trabalhar no setor privado ou em institutos como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Zé Carlos Barretta - 24.set.2015/Folhapress
Fachada da sede do Instituto Biológico, na Vila Mariana, em São Paulo
Fachada da sede do Instituto Biológico, na Vila Mariana, em São Paulo

No órgão federal, os salários chegam a R$ 19 mil. No Estado, um pesquisador em início de carreira ganha R$ 4.173, e o teto é R$ 9.893.

A APQC fala em "apagão científico". Segundo Joaquim Azevedo Filho, presidente da associação, o deficit de pessoal se arrasta desde 1995.

Ele diz que há cerca de 3.800 cargos vagos na Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), ligada à Secretaria Estadual da Agricultura e responsável pela manutenção dos institutos.

SÓ EM 2017

Segundo o coordenador da Apta, Orlando Melo de Castro, a atual crise só permitirá um concurso público a partir de 2017. "Em 2016 não dá."

"Nossa intenção era fazer pequenos concursos em prazos menores, para não haver descontinuidade das pesquisas. Mas a situação se agravou por causa da crise. Estamos no limite dos gastos."

Castro disse que o último concurso, em 2004, contratou 360 profissionais, mas nos últimos cinco anos cresceram as aposentadorias.

O orçamento da Apta neste ano, de R$ 245 milhões, está 6% menor na comparação com 2014. Já os investimentos em pesquisa devem cair 61%, para R$ 2,6 milhões.

"Graças à tecnologia, nós estamos mais produtivos do que há dez anos. Mas é lógico que daria para fazer mais", afirma Catro. Sem dar detalhes, ele diz que o governo estuda uma remodelação dos institutos para o próximo ano, o que pode incluir a participação privada.

RISCO PARA A LAVOURA

No IAC (Instituto Agronômico de Campinas), por exemplo, as pesquisas de melhoramento genético em trigo, aveia, girassol, mamona, gergelim e arroz estão todas paradas por falta de pessoal, segundo a associação.

Já os estudos sobre algodão devem parar. A unidade, que já teve oito pesquisadores, agora só tem quatro, sendo que dois são aposentados voluntários e deixarão o trabalho até o final do ano.

O IAC já desenvolveu plantas resistentes a 8 das 10 doenças de algodão.

No mês passado, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas iniciou o processo de tombamento de todo o acervo de coleções, prédios e móveis do IAC, a pedido dos pesquisadores.

Marina Rago - 4.ago.2015/Folhapress
Estufa do Instituto Biológico, na Vila Mariana, em São Paulo
Estufa do Instituto Biológico, na Vila Mariana, em São Paulo

A medida deve interromper, por até um ano, a transferência de um outro acervo, no caso de plantas, que tem 56 mil amostras.

O pedido foi feito após a Apta transferir para São Paulo, em setembro, um acervo de 8.500 amostras de insetos e pragas coletados ao longo de 80 anos, o que, segundo pesquisadores, prejudica o instituto.

O coordenador da Apta afirmou que a medida teve como objetivo ampliar o uso em pesquisas, e que os estudos em andamento em Campinas não serão prejudicados.

A crise atinge também o Instituto Biológico, em que dois laboratórios fecharam e quatro estão subutilizados. O de Zootecnia teve a fábrica de ração fechada.

Os institutos de Economia Agrícola, de Pesca, de Tecnologia de Alimentos e de Descentralização do Desenvolvimento também têm déficit de pessoal.

INSTITUTOS PAULISTAS

Instituto Número de pesquisadores e técnicos Vagas abertas % de vagas abertas
Instituto Agronômico de Campinas 390 1.496 79%
Instituto Biológico 198 738 79%
Instituto de Economia Agrícola 97 165 63%
Instituto de Pesca 115 321 74%
Instituto de Tecnologia de Alimentos 184 292 61%
Instituto de Zootecnia 155 591 79%
Departamento de Descentralização do Desenvolvimento 589 249 30%
Total  1.728 3.852 69%

Fonte: APQC (associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo)


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