Folha de S. Paulo


Start-up usa tecnologia de chips de silício para produzir diamantes

Há uma década, o Vale do Silício tinha altas expectativas de se tornar um vibrante centro industrial, fabricando painéis solares. Mas a concorrência de preço de rivais externos, especialmente da China, rapidamente demoliu esses sonhos.

E assim os fundadores da Nanosolar, uma grande start-up que levantou cerca de US$ 500 milhões em seus seis primeiros anos, começaram a explorar maneiras de produzir que aplicassem seus conhecimentos a novas tecnologias.

Um grupo de engenheiros e cientistas liderado por R. Martin Roscheisen, fundador da Nanosolar, anunciou em novembro que havia desenvolvido uma abordagem avançada para a produção de diamantes, usando tecnologia derivada em parte da produção de chips de silício e células solares, a ser usada em uma nova empresa.

Os primeiros diamantes sintéticos surgiram no começo da década de 50, e a comercialização de diamantes produzidos cresceu a ponto de termos pelo menos 10 empresas hoje produzindo diamantes industriais ou comerciais.

Mas a nova empresa, Diamond Foundry, afirma ter desenvolvido avanços exclusivos que tornarão possível produzir diamantes de alta qualidade mais rápido e com custo/benefício menor do que no caso das tecnologias existentes.

A nova abordagem torna possível "cultivar" diamantes a um custo comparável ao das melhores gemas naturais, de acordo com os fundadores da empresa. O objetivo da companhia é criar um novo site para distribuição a fim de concorrer com as joalherias existentes, o que pode reduzir os sobrepreços e portanto ser mais atraente para os estilistas de joias.

DI CAPRIO

A Diamond Foundry, sediada em San Carlos, Califórnia, conta com lista notável de patrocinadores financeiros, entre os quais Mark Pincus, criador da Zynga; Evan Williams, um dos fundadores do Twitter; Andreas Bechtolsheim, fundador da Sun Microsystems e um dos investidores iniciais do Google; e Andrew McCollum, um dos fundadores do Facebook.

Outro dos investidores é o ator Leonardo DiCaprio, que procurou a Diamond Foundry porque ele estava preocupado com algumas questões éticas relacionadas à mineração convencional de diamantes, entre as quais questões ambientais. A Diamond Foundry vai comprar créditos de energia solar para reduzir a zero seu volume de emissões, disse Roscheisen, para ajudar a sustentar sua afirmação de que oferecerá alternativa "sustentável" aos diamantes minerados.

Roscheisen era aluno de pós-graduação da Universidade Stanford na mesma classe que Larry Page e Sergey Brin, os fundadores do Google. Os dois investiram na Nanosolar, sua empresa de energia solar, que começou a produzir painéis solares finos em 2007. Em fevereiro de 2013, incapaz de competir em custo com os rivais chineses, a Nanosolar demitiu 75% de seu pessoal.

A Diamond Foundry não é a primeira empresa a tentar usar a técnica, conhecida como deposição química de vapor, para cultivar diamantes por meio da deposição de camadas de átomos de carbono em um campo de plasma de alta energia.

PANQUECA

De acordo com Roscheisen, o novo processo tornará possível produzir grandes quantidades de diamantes IIa, um material branco puro que representa de 1% a 2% dos diamantes naturais. Outros fabricantes também produzem gemas IIa, mas a equipe da Diamond Foundry diz ter desenvolvido um processo que será mais efetivo no "cultivo" do material do diamante, camada atômica após camada atômica, mais rapidamente.

Diamantes são uma das muitas formas que o carbono pode tomar. Pesquisadores da Diamond Foundry passaram anos desenvolvendo uma nova técnica industrial baseada em uma fonte de plasma com novo "formato", 10 vezes mais poderoso do que o usado anteriormente por fabricantes de diamantes sintéticos, disse Roscheisen.

Jason Henry/The New York Times
Jeremy Scholz (esq.) e R. Martin Roscheisen, cofundadores da startup Diamond Foundry
Jeremy Scholz (esq.) e R. Martin Roscheisen, cofundadores da startup Diamond Foundry

Ao modificar a forma do campo de plasma para o que Roscheisen descreveu como numa panqueca, os pesquisadores conseguiram tornar mais eficiente a reação que produz a estrutura do diamante, e assim criar mais rápido o material do diamante. A intensidade do plasma significa que a empresa pode criar material puro de diamante, em volume cerca de 150 vezes maior que o setor agora produz.

"Isso significa que podemos criar um diamante branco com 100% de pureza", em ritmo que se compara à velocidade com a qual diamantes são minerados.

COMPETIÇÃO

O processo começa com uma fatia muito fina de diamante natural funcionando como substrato, e amplia o tamanho do material de diamante original acrescentando novas camadas de átomos de carbono. Roscheisen disse que especialistas trabalhando em laboratórios científicos poderiam determinar que o diamante era sintético porque ele se assemelharia a um tipo de diamante que raramente ocorre na natureza. Ver os diamantes em grande quantidade seria um indicador de sua origem, mas ver apenas um deles não, afirmou.

"Especialistas em joalheria e especialistas em gemas não conseguem distinguir", ele disse. "Não há coisa alguma que possam ver".

Há diversas maneiras de fabricar diamantes industriais, incluindo a aplicação de altas pressões e temperaturas, a detonação de explosivos que criam nanocristais de diamantes e o uso de ultrassom para criar cristais de diamantes com tamanho da ordem do mícron, além do método de deposição por vapor usado amplamente na produção de semicondutores e células solares.

Wuyi Wang, diretor de pesquisa científica do Instituto Gemológico dos Estados Unidos, uma organização sem fins lucrativos que avalia gemas, disse que o mercado de diamantes sintéticos é extremamente competitivo e que muitas empresas estavam tentando melhorar as técnicas de produção das pedras.

PREÇO

Wang disse que não examinou amostras da Diamond Foundry, mas afirmou ser possível para seu laboratório distinguir entre diamantes naturais e produzidos do Tipo IIa.

Mas diferenciar entre diamantes naturais e produzidos requer conhecimento e equipamento especializado, ele disse, e não seria possível para o consumidor médio.

Em um esforço por romper o controle que a indústria tradicional do diamante exerce sobre o mercado, a Diamond Foundry criou um mercado online onde oferecerá joias de diamantes criadas por conhecidos estilistas, a maioria dos quais associados à Ethical Metalsmiths, organização que encoraja práticas éticas e ambientalmente sólidas da parte dos joalheiros.

A empresa também venderá diamantes nos mercados industrial, científico e de atacado. "Queremos facilitar aos estudantes de doutorado de todo o mundo o trabalho com diamantes", ele disse.

Na quarta-feira, diversos analistas apontaram que quando seu site começou a funcionar, a Diamond Foundry não estava oferecendo diamantes a preços inferiores aos da concorrência.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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