Folha de S. Paulo


Após ajuste, Irlanda reemerge com o maior crescimento da zona do euro

Dois anos depois de deixar o programa de resgate do FMI e da União Europeia que ajudou o país a superar uma crise fiscal, a República da Irlanda é a economia que mais cresce na zona do euro -a expectativa é que o PIB tenha alta de 6% neste ano.

A crise no país foi desencadeada pelo estouro de uma bolha imobiliária em meio ao abalo financeiro global.

Após um ajuste fiscal que envolveu aumento de impostos e uma redução expressiva de despesas públicas, incluindo corte em salários de servidores, o país vê sua dívida pública recuar pelo segundo ano consecutivo.

A desvalorização do euro tem favorecido as exportações, e o desemprego está em queda, apesar do patamar ainda alto para a região, de 9%.

Com o desempenho favorável, o país de 4,5 milhões de habitantes deixou para trás a condição de membro do grupo apelidado Piigs -que reunia ainda Portugal, Itália, Grécia e Espanha. A Irlanda ensaia agora voltar a merecer o título de Tigre Celta que recebeu nos anos 1990, quando cresceu de forma acelerada.

VOLTANDO PARA CASA - Irlanda supera crise e mira em expatriados

O país é a sede europeia de gigantes de tecnologia como Google e um dos principais celeiros de start-ups (empresas iniciantes) do mundo. Para sustentar a retomada, o país tem o desafio de melhorar seu ambiente de negócios a fim de atrair mais investimento estrangeiro e estimular a abertura de empresas.

O governo aposta que uma parcela dos cerca de 70 milhões de pessoas com vínculo familiar com a Irlanda no exterior possa contribuir para abrir oportunidades econômicas a fim de o país alavancar investimentos.

Pensando nisso, reuniu, em novembro, executivos e empresários irlandeses com atuação em 29 países. Foi o primeiro encontro pós-recuperação. O evento foi organizado pela primeira vez em 2009 para tratar de saídas para a crise.

"Estamos em recuperação, mas ela é frágil. Não podemos assumir que esteja garantida", disse o primeiro-ministro, Enda Kenny, no encontro.

Ele afirmou a importância de os irlandeses que emigraram nos últimos anos voltarem para investir ou atuar nas empresas do país.

Alain Jocard - 30.nov.2015/AFP
O primeiro-ministro irlandês Enda Kenny discursa durante a conferência (COP21
O primeiro-ministro irlandês Enda Kenny discursa durante a conferência (COP21

Segundo Julie Sinnamon, diretora da Enterprise Ireland, agência estatal de fomento, os irlandeses têm de ir para casa "não apenas para o Natal".

Desde 2010, o número de emigrantes supera o de imigrantes e o governo espera reverter esse fluxo a partir do ano que vem.

Um dos problemas enfrentados hoje em Dublin, a capital, é a falta de moradias atrativas. Depois do estouro da bolha imobiliária, iniciado em 2007, os investimentos em construção despencaram, reduzindo a oferta de imóveis. Há ainda a necessidade de desconcentrar o crescimento para além de Dublin e seguir melhorando os indicadores educacionais para que o país possa competir globalmente.

A jornalista ISABEL VERSIANI viajou
a convite do governo da Irlanda


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