Folha de S. Paulo


Mercado de livros eletrônicos dá sinais de estagnação

Lucas Jackson - 23.jun.2015/Reuters
Passageiro do metrô de Nova York usa o Kindle, e-book da Amazon
Passageiro do metrô de Nova York usa o Kindle, e-book da Amazon

A indústria de livros eletrônicos está perigosamente próxima da estagnação, em parte ao menos.

A venda do Kindle, o leitor de e-book da Amazon, que domina o mercado, vem caindo tanto que a rede britânica de livrarias Waterstones abandonou em outubro as vendas do aparelho. E a consultoria Gartner projetou para 2017 uma redução para a metade das unidades vendidas em 2014.

Por outro lado, as vendas dos próprios livros eletrônicos nos EUA, segundo a Associação Americana de Editoras, num levantamento com 1.200 delas, teriam caído 10% apenas nos primeiros cinco meses de 2015.

De passagem pelo Brasil, para marcar o terceiro ano da Amazon no país, a ser completado neste domingo (6), o vice-presidente de conteúdo do Kindle, David Naggar, diz que não pode divulgar ou comentar números específicos de queda nas vendas do aparelho, mas acrescenta:

Karime Xavier/Folhapress
O vice-presidente de conteúdo do Kindle, David Naggar
O vice-presidente de conteúdo do Kindle, David Naggar

"O que vou dizer é que aquilo com que nós nos preocupamos é com clientes comprando os livros da nossa loja [eletrônica]. Cabe ao consumidor escolher onde quer ler seus livros. Nós também produzimos aplicativos, o app Kindle que você pode baixar para iOS, Android, PC".

Quanto à venda dos livros eletrônicos, propriamente, Naggar responde que a queda se refere àqueles produzidos e com preços definidos pelas editoras.

"Os e-books delas estão caindo. A nossa loja continua crescendo. O Kindle Unlimited [assinatura de e-book, semelhante ao Netflix, lançada em 2014 nos EUA e no Brasil] é parte disso, e também o crescimento da publicação independente."

Ele não dá números absolutos, mas acrescenta que a venda de livros independentes, em "autopublicação" ou KDP (Kindle Direct Publishing), responde por 30% do total, na lista dos cem mais vendidos na loja brasileira.

"A proporção varia por país, mas não é só aqui. O avanço da publicação independente e do Unlimited manteve nossa loja crescendo."

PREÇO

Autor de "Free Ride" (2012, Anchor), livro em que questiona os "parasitas digitais" de conteúdo, o jornalista Robert Levine diz que "a pegada da Amazon para o Kindle sempre foi que 'e-books são o futuro, o Kindle é maravilhoso e o preço certo para qualquer livro é US$ 9,99".

A queda na venda de livros resultou, também segundo ele, do rompimento dessa barreira de preço. Acrescenta Levine: "As pessoas estavam comprando Kindles e lendo e-books porque a Amazon estava mantendo o preço dos livros artificialmente baixo, para construir fatia de mercado?".

Ele próprio diz que sim, em parte, mas David Naggar explica de outra maneira: "Cada país é diferente. O preço de US$ 10 era baseado nos EUA. Mas nós construímos negócios vibrantes com o Kindle em países com leis de preço fixo, como França, Alemanha, Espanha".

O executivo acrescenta que US$ 9,99 continua sendo um preço de referência para e-books de lançamento nos EUA, porque pesquisas internas mostrariam que, mudando para US$ 14,99, as vendas caem 75%.

Questionado se a Amazon já fez pesquisas semelhantes para estabelecer um valor de referência no Brasil, Naggar diz que ainda não, mas que agora, no terceiro ano no país, "vamos começar".

Ele diz que esta é sua primeira visita ao país nestes três anos e questiona a visão de que as editoras locais tenham resistido ao estabelecimento da Amazon neste período.

"Eu estava aqui para o lançamento. Tivemos conversas produtivas com elas e temos ótimas relações. [No início,] elas queriam uma certa abordagem, nós queríamos outra e houve discussão para achar uma posição que agradasse a todos. Mas eu não chamaria de resistência."


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