Folha de S. Paulo


Vale sai do índice de sustentabilidade da Bolsa após tragédia em MG

A BM&FBovespa anunciou nesta quinta-feira (26) a nova carteira do ISE, seu Índice de Sustentabilidade Empresarial. A novidade está na ausência das ações da mineradora Vale. Somadas, as ações preferenciais e ordinárias da companhia totalizam 12,04% de participação na carteira do índice que vigora até dezembro deste ano —o maior peso do ISE.

Após o anúncio, as ações da Vale reduziram os ganhos na BM&FBovespa. Os papéis preferenciais da mineradora —mais negociados e sem direito a voto— fecharam com leve alta de 0,51%, para R$ 11,76, enquanto os ordinários —com direito a voto— avançaram 0,92%, para R$ 14,19.

A Bolsa não especificou o motivo pelo qual os papéis da mineradora não farão parte do ISE em 2016. Sonia Favaretto, presidente do conselho deliberativo do ISE e diretora de imprensa e sustentabilidade da BM&FBovespa, se limitou a dizer que "as duas possibilidades para a empresa não estar no ISE são a companhia não ter participado do processo para ser incluída no índice ou não ter se qualificado para compor a carteira".

É a primeira vez desde a carteira que vigorou entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010 que as ações da mineradora ficam de fora do ISE.

A carteira foi deliberada na última terça-feira (24), quase três semanas após a tragédia que afetou a cidade mineira de Mariana.

Em nota, a Vale afirmou que mantém seus compromissos nos avanços da agenda de sustentabilidade e destacou que se manteve no ISE por cinco anos consecutivos até 2015

Ao todo, 35 empresas com 40 ações farão parte do ISE no próximo ano, correspondendo a 44,75% do valor de mercado da BM&FBovespa. A nova carteira vai vigorar entre 4 de janeiro e 29 de dezembro de 2016. Banco do Brasil, Bradesco, Eletrobras e Itaú Unibanco são algumas das empresas que se mantiveram no índice.

Entre as ações novas no ISE estão as da Cesp, do setor elétrico, e os papéis da Oi, de telecomunicações. Além da Vale, Coelce (setor elétrico), Gerdau (siderúrgica), Metalúrgica Gerdau (metalúrgica) e Sabesp (saneamento) estão entre as baixas do ISE.

ENTENDA

Uma das acionistas (ao lado da anglo-australiana BHP Billiton) da Samarco, responsável pela barragem, a Vale utilizava a área para despejar rejeitos de minério de ferro de suas atividades na região.

Embora seja acionista da empresa, a mineradora até agora não admitiu qualquer responsabilidade pela tragédia. Nos pronunciamentos feitos pela mineradora e por seus diretores não houve menção aos rejeitos que a empresa depositava na barragem.

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A tragédia que afetou cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo foi provocada pelo rompimento da barragem –que resultou no vazamento de ao menos 40 bilhões de litros de lama e no transbordamento também da barragem de Santarém, que fica logo abaixo da do Fundão.

As causas do rompimento ainda são desconhecidas, e só uma investigação poderá dizer se a quantidade de lama enviada pela Vale estava ou não dentro das normas.

O desastre deixou ao menos 13 mortos –11 pessoas ainda estão desaparecidas e quatro corpos aguardam identificação–, além de ter destruído a fauna e a flora por onde a lama passou.

O rejeito, que contaminou praticamente todo o rio Doce, chegou no fim de semana ao mar do Espírito Santo.

O governo federal classificou o episódio como a maior tragédia ambiental já ocorrida na história do país.

OPERAÇÕES CONJUNTAS

A Samarco (que é presidida por Ricardo Vescovi) e a Vale (que tem Murilo Ferreira como presidente) mantêm várias atividades operacionais conjuntas na região de Mariana. O compartilhamento da barragem é uma delas.

O rejeito da mina de Alegria era transportado para a barragem de Fundão por meio de linhas de transmissão que foram destruídas no acidente, segundo relatos obtidos pela Folha. A Vale, no entanto, afirma que a informação não procede.

Desde a tragédia em Mariana, as atividades das duas mineradoras na região tiveram que ser reduzidas.

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