Folha de S. Paulo


Temidos por atacar moradores, jacarés viram fonte de renda em Rondônia

Jacarés passam a ser fonte de renda em Rondônia

Antes temidos por atacar moradores, jacarés são hoje fonte de renda na pequena comunidade do lago do Cuniã, em Porto Velho (RO).

Desde 2011, quando o abate regulamentado começou, a venda do couro e da carne fez com que os animais passassem a ser cultivados e respeitados pela população local.

O início dos estudos para o projeto ocorreu em 2004, depois de ataques de jacarés terem ferido moradores e causado a morte de uma criança de cinco anos.

"Até então a gente tratava jacaré com uma diferença, como uma espécie ameaçadora, tínhamos medo de conviver, então desenvolvemos o projeto de manejo do animal", diz Antônio Ednaldo, presidente da Cooper Cuniã, cooperativa formada por moradores que executa o projeto.

O lago do Cuniã fica próximo ao rio Madeira, em uma reserva extrativista de responsabilidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Para chegar até o local, o caminho mais curto a partir do centro de Porto Velho é por um percurso de três horas que envolve estrada de terra, travessias de barco e trilha de moto.

FITA CREPE

A captura dos jacarés ocorre à noite: para que sejam laçados, é preciso antes cegá-los com a luz das lanternas. Devido ao risco de ataques, os jacarezeiros, como são conhecidos os trabalhadores responsáveis pela perigosa ação, passam fita crepe na boca e nos olhos do jacaré.

Após medirem o animal e verificarem seu sexo, os jacarezeiros retiram do lago apenas os machos -em média, 25 por dia.

Todo o processo de manejo, conhecido como "harvesting" (colheita, em inglês) por não envolver criação em cativeiro, só ocorre entre agosto e novembro, época de seca, e é feito com duas espécies do animal: o jacaré-açu e o jacaretinga.

Como só há autorização do órgão fiscalizador municipal, a carne de jacaré apenas pode ser comercializada em Porto Velho. Encontrar compradores não foi fácil: de início, apenas um estabelecimento aceitou vender o produto. Hoje, o quilo da carne é comercializado a R$ 29,90 e tem boa aceitação na cidade.

Já o couro, após ser secado, é vendido em estado bruto para uma empresa em Minas Gerais por R$ 150 a unidade. No total, a venda da pele e da carne gera cerca de R$ 260 mil por ano para a comunidade do lago do Cuniã.

ALAGOAS

Os jacarés também são fonte de renda para empresas em outras partes do país. Situada em Maceió (AL), a Mr. Cayman tem o maior criatório de jacarés-de-papo-amarelo da América Latina, com aproximadamente 20 mil animais.

O animal é criado e se reproduz em cativeiro. Depois de um ano e meio, os répteis estão prontos para o abate e, após quatro anos, viram reprodutores.

Além de exportar a pele já beneficiada para o mercado europeu e asiático, a Mr. Cayman atua com o repasse de tecnologia para parceiros e a venda tanto de animais vivos quanto, por meio das duas grifes que possui, do produto final.

A carne, que recebe certificação estadual, é vendida para famílias e restaurantes de Alagoas. Seu valor por quilo, sem osso, é R$ 140.
Já o valor da pele de cada jacaré-de-papo-amarelo, mais cobiçada pelo mercado de luxo do que a de outras espécies, varia de € 1.200 a
€ 2.000 (de R$ 4.800 a R$ 8.000, aproximadamente).

"Nós estamos na contramão da crise, temos mercado no mundo inteiro. Nos próximos anos não teremos como atender nem 30% da demanda", afirma Cristina Ruffo, dona da empresa.

edição de vídeo DIEGO ARVATE


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