Folha de S. Paulo


Consultas ao BNDES por novos empréstimos caem 46% neste ano

As consultas por novos empréstimos ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tiveram queda de 46% neste ano até outubro, para R$ 108,6 bilhões, mostram dados divulgados nesta quinta-feira (19).

Este é o menor nível das consultas em mais de uma década, desde 2003, considerando os valores da série histórica do banco corrigidos pelo IPCA, a inflação oficial. Em 2003, as consultas somavam R$ 72 bilhões a preços de hoje.

A consulta é a primeira etapa do pedido de financiamento no banco. Ela é seguida pelo enquadramento da operação nas regras do banco, da aprovação do empréstimo e, finalmente, do desembolso dos recursos para as empresas.

Por ser um processo preliminar, a consulta por empréstimos é considerado um indicador antecedente dos futuros financiamentos e investimentos na economia. E, por isso mesmo, a redução do número de pedidos preocupa os economistas.

Sérgio Lima - 9.abr.2014/Folhapress
Luciano Coutinho, presidente do BNDES
Luciano Coutinho, presidente do BNDES

Com a economia em recessão e a crise política, a confiança do empresariado está em baixa. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a confiança está em 36,4 pontos. Qualquer número abaixo de 50 pontos na pesquisa significa "pessimismo".

Segundo Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, a queda das consultas seria algo esperado para um período de recessão.

"A magnitude da queda sugere um colapso das expectativas [dos empresários], profundo pessimismo e consequentemente uma retomada mais lenta em 2017 e 2018, se esse processo não se acentuar", disse Frischtak.

As consultas podem ter sido afetadas ainda pelas mudanças de regras do banco. O financiamento está mais caro e restrito. Empresas precisam, por exemplo, emitir títulos no mercado para conseguir uma parcela maior de juros subsidiados.

Com essa mudança operacional, o banco está se ajustando ao fim dos aportes de recursos do Tesouro, uma das medidas do ajuste fiscal conduzido pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda). O BNDES tem um saldo devedor de cerca de R$ 534 bilhões com o Tesouro.

DESEMBOLSOS

De acordo com dados divulgados pelo BNDES, os desembolsos da instituição somaram R$ 105,5 bilhões de janeiro a outubro deste ano, uma queda de 28% na comparação ao mesmo período do ano passado.

Do valor liberado, R$ 40,8 bilhões foram para a área de infraestrutura, o que representou a maior fatia dos recursos liberados. Mesmo assim, o valor é 22% menor na comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo o superintendente de Planejamento do BNDES, Cláudio Leal, a queda dos desembolsos do banco está concentrada em linhas de mais curto prazo do banco, e não dos grandes empreendimentos.

"A carteira tem grandes projetos aprovados nos últimos anos, como hidrelétricas. A queda dos desembolsos está no financiamento a caminhões, máquinas e equipamentos, por exemplo", disse Leal, em entrevista por telefone.

Nos últimos 12 meses, os financiamentos pelo Finame –voltado para máquinas, equipamentos e bens de informática– tiveram uma queda de 36%, para R$ 41 bilhões, segundo o BNDES.

O PSI (Programa de Sustentação do Investimento) também teve forte queda de 43% nos 12 meses até outubro, para R$ 42,5 bilhões. Esse programa, que envolve um conjunto de linhas de financiamento, teve seu prazo reaberto pelo governo.

"Nós só teremos os dados do resultado da reabertura do programa no dia 27, quando o prazo se encerra", disse o superintendente de Planejamento do BNDES. "Isso pode mudar um pouco o desempenho do banco neste fim de ano".


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