Folha de S. Paulo


análise

'Playboy' perdeu força ao não poder bancar estrelas na capa

Quem acompanhava detalhadamente os dados de circulação da revista "Playboy" já imaginava que, mais dia ou menos dia, a revista seria considerada comercialmente inviável. Nesta quinta-feira (19), a editora Abril anunciou que deixará de publicar a revista em dezembro.

Cada vez mais, a concorrência com a internet minava a vendagem da revista. Quanto menos a revista vendia, menos brilhantes as estrelas em sua capa. Quanto menos brilhantes as estrelas da capa, menos a revista vendia. Nos últimos anos, nem sequer as entrevistas da "Playboy" andavam justificando a proverbial desculpa dada por seus leitores.

O ano 2000 teve Vera Fischer (janeiro), Suzana "Tiazinha" Alves (março) e Joana "Feiticeira" Prado (julho) alcançando marcas históricas na vendagem da revista. Setecentos, oitocentos mil exemplares. Duzentos mil exemplares era um fiasco de vendas. Nesta década, a última vez em que a circulação chegou a esse nível foi com o segundo ensaio de Adriane Galisteu (agosto de 2011).

As edições de aniversário da revista, em agosto, sempre traziam as grandes estrelas do momento e vendiam de acordo. O último grande pico de vendagem foi a capa com Cleo Pires, na edição de aniversário de 2010. Vendeu menos de meio milhão de cópias, o equivalente ao que venderia uma dançarina do Axé Blond dez anos antes, mas em 2010 era o equivalente a três, quatro meses da revista.

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Na edição comemorativa dos 40 anos, publicada neste ano, a moça era tão anônima que sequer o rosto mostrou na capa. O resultado? Um décimo de Feiticeira.

Até a metade de 2005, era possível contar nos dedos de uma mão, com o perdão da imagem, quantas edições venderam menos nas bancas do que em assinaturas: foram as capas de Antonela do BBB (novembro de 2003), Naara e Lorraine do bodyboarding (junho de 2004) e da atriz Flávia Monteiro (maio de 2005).

Na década passada, os editores da revista descobriram um filão: as garotas do BBB. Elas entraram no imaginário popular brasileiro a tal ponto que foram citadas pelo juiz Cláudio Ferreira Rodrigues, em 2009, como argumento para decidir sobre o ressarcimento por uma TV comprada com defeito. Ele citou "as gostosonas do Big Brother" e o jogo do Flamengo como atrações que o reclamante deixou de ver.

As edições em que elas mostravam o que o edredom escondia costumavam ser um sucesso nas bancas. Juntas, as "sisters" venderam mais de cinco milhões de exemplares. Mas, entre as capas de Leka (maio de 2002) e de Vanessa (julho de 2014), a venda em banca das edições com as participantes do programa caiu 90%.

Desde o começo de 2012, apenas uma capa —a da atriz Nanda Costa (agosto de 2013), com a polêmica sobre seus pêlos— vendeu mais do que o total de assinaturas. Menos do que Naara e Lorraine em 2000, mas foi um sucesso para os últimos anos.

As vendagens geravam polêmica entre as coelhas. Pouco antes de sair a capa de Nanda Costa, a atriz Antonia Fontenelle andou dizendo no Twitter que seu ensaio tinha vendido meio milhão de exemplares. Foi questionada pelo empresário de Nanda Costa, que lembrou que a auditoria saía dois meses depois do lançamento. Nos dados oficiais, a viúva do diretor de novelas Marcos Paulo e atual namorada do funkeiro Jonathan da Nova Geração não vendeu um terço do que tuitou.

De janeiro de 2004 a agosto de 2015, as assinaturas caíram pela metade. Em junho, o mote da capa era o fato de a modelo ser sósia da panicat Aryane Steinkopf. Vendeu a metade do que a original vendeu em abril de 2012.

Nos últimos tempos, a equipe do "F5" precisava apresentar a moça da capa ao noticiar a escolha. "Conheça a índia fitness, capa da Playboy de novembro" foi o último título. Se antes a "Playboy" se vangloriava de suas beldades, hoje elas é que têm a agradecer. A funkeira Tati Zaqui, por exemplo, só apareceu no site de entretenimento da Folha depois de ser capa da "Playboy" de julho.

Pode-se argumentar que 100 mil exemplares é uma tiragem razoável para uma editora menor do que a Abril, com todos os seus custos. O custo da marca Playboy, porém, é cotado em dólar, o que é um problema com o câmbio atual.

Para pagar esse custo, a revista precisa vender bem. Para vender bem, precisa de estrelas. Para ter estrelas, precisa vender bem num cenário de concorrência com a abundância de nudez profissional e amadora na internet. Não será fácil a vida da nova "Playboy".


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