Folha de S. Paulo


Proálcool faz 40 anos em meio a uma das mais graves crises da história

Nascido em 1975 como alternativa à crise do petróleo de 1973, o Proálcool chega neste sábado (14) aos 40 anos em um momento de crises de confiança e financeira.

A história do programa é permeada de conflitos e mortes nos canaviais e de avanços para a economia e a tecnologia brasileiras.

O documento que criou o Programa Nacional do Álcool foi assinado por Ernesto Geisel —o penúltimo dos generais presidentes (1974-79)— e publicado em 14 de novembro de 1975.

O objetivo era reduzir a dependência do petróleo e tornar o país autossuficiente no setor.

40 ANOS DO PROÁLCOOL - Veículos licenciados, por ano e tipo de combustível, em milhões

Hoje em uma das mais graves crises da história, o setor que contribuiu para interiorizar a economia do país —com grandes usinas localizadas em regiões distantes das capitais— deve cerca de R$ 80 bilhões, principalmente de financiamentos bancários. O montante é mais que o faturamento global das usinas numa única safra, estimado em R$ 65 bilhões.

Apesar disso, as usinas ganharam "fôlego" recente com as vendas recordes de etanol, graças ao aumento da Cide na gasolina e à redução de impostos estaduais.

Essa ciclotimia econômica existe há quatro décadas. Desde o primeiro veículo a álcool, em 1979, usinas de etanol e açúcar alternam períodos de bonança e retração.

40 ANOS DO PROÁLCOOL -

Se hoje o setor apresenta bons números, nem sempre foi assim. A começar pela crise de 1985, quando o crédito às usinas secou, num momento de forte inflação.

"Isso gerou estagnação até 1989. Não crescia mais a oferta de álcool, mas a frota movida a etanol continuava crescendo", disse o diretor-técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Antonio de Padua Rodrigues.

À época, o combustível abastecia 9 em cada 10 veículos novos. O descontrole nos anos seguintes fez o álcool sumir dos postos e criou a primeira crise de confiança do consumidor nos usineiros.

40 ANOS DO PROÁLCOOL - Consumo de etanol hidratado no país, em bilhões de litros consumidos

NA MARCHA A RÉ

"Depois disso, o setor andou de ré", disse Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da Udop (União dos Produtores de Bioenergia) e filho de Cícero Junqueira Franco, usineiro da região de Ribeirão Preto e um dos signatários do Proálcool.

As vendas de veículos movidos a etanol quase zeraram nos anos 90, até a "salvação" de 2003, com o lançamento do primeiro carro flex –movido a gasolina ou a etanol.

Em seu primeiro ano, como reflexo ainda da desconfiança do consumidor e também do preço, que era mais alto, foram vendidos 48.178 veículos bicombustíveis, nada se comparado ao 1,43 milhão de três anos depois ou aos 3,1 milhões de 2013.

Esse novo boom teve três efeitos: aumentou o número de usinas (55 novas só entre 2007 e 2009); os usineiros foram chamados por Lula de "heróis nacionais e mundiais"; nos postos de combustível, o nome do produto passou de álcool para etanol.

Em meio à euforia, existiam ainda conflitos com boias-frias e denúncias de maus-tratos nos canaviais. De 2004 a 2008, houve ao menos 22 mortes com suspeitas de excesso de esforço no campo.


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