Folha de S. Paulo


Acesso de alunos brasileiros à internet ainda é inferior ao de outros países

Embora ainda enfrente gargalos de infraestrutura e adaptação de alunos e professores, o uso da internet e de novas ferramentas tecnológicas já é reconhecido como um caminho irreversível na educação do futuro.

Segundo especialistas, o modelo de aprendizado continuará evoluindo nos próximos anos com algum vínculo com a internet, seja por meio de vídeos, jogos ou outras ferramentas.

Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, explica, entretanto, que a conectividade das escolas ainda é um gargalo.

Educação
Iniciativas bem-sucedidas no Brasil
Sala de aula em Sobral

A instituição lançou neste ano uma campanha em parceria com outras entidades, como os institutos Inspirare e ITS (tecnologia e sociedade), que visa sensibilizar o governo sobre a universalização da internet rápida nas escolas públicas para possibilitar o uso de tecnologias em sala de aula.

Dados do movimento com base em estatísticas do Censo Escolar de 2013 apontam que só 58% das escolas possuem acesso à internet.

E apenas 19% das escolas públicas brasileiras contam com conexão superior a 2 mega de velocidade.

EMPREENDEDORISMO

A Fundação Lemann realiza anualmente o Start-Ed Lab, um edital para selecionar e preparar empreendedores que tenham ideias de produtos tecnológicos na área de educação.

Dentre as iniciativas de empreendedorismo educacional no Brasil, uma linha importante procura descobrir meios de replicar o aprendizado em larga escala, mas, ao mesmo tempo, reduzir desníveis entre os alunos, usando a tecnologia para personalizar os conteúdos.

Um dos mais destacados exemplos de start-ups do ramo no Brasil é a Geekie, empresa que desenvolve uma plataforma de educação adaptativa capaz de personalizar e dar autonomia à aprendizagem do aluno a partir da análise de seu desempenho.

Seus fundadores criaram um algoritmo que funciona como um professor particular, capaz de identificar nele aptidões e dificuldades.

Brasileiro tem menor acesso à internet na escola, mas está à frente nas redes sociais

"Nós partimos do princípio de que as pessoas aprendem de forma diferente e vimos a possibilidade de usar a tecnologia para permitir que o conteúdo fosse personalizado. O desafio era fazer em larga escala para oferecer a custo baixo. Então criamos essa inteligência", diz Claudio Sassaki, CEO da Geekie.

À medida que o aluno pratica os exercícios pela Geekie, a plataforma "percebe" seus erros e introduz lições para sanar as dificuldades.

A ideia foi inspirada na Khan Academy, do matemático norte-americano Salman Khan, que usa videoaulas e conteúdo interativo para engajar e atrair estudantes.

CONECTADOS

O acesso dos alunos brasileiros à internet na escola ainda é inferior ao verificado em outros países, segundo pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação com 2.261 crianças e adolescentes brasileiros usuários de internet de 9 a 17 anos.

Apesar de estarem à frente no uso de redes sociais, os jovens internautas brasileiros têm menor acesso à rede no ambiente da escola.

Quase 80% das crianças e adolescentes brasileiros que usam internet possuem um perfil próprio nas redes sociais. No Reino Unido, essa participação é de 58%.

Já o acesso à internet na escola é limitado a apenas 36% no Brasil, ante 88% no Reino Unido.

Wilson Risolia, que foi secretário de Educação no Rio de Janeiro e hoje dirige a consultoria especializada Falconi Educação, pondera que levar tecnologia à escola não é só dar tablets aos alunos.

"Tecnologia é um instrumento de apoio ao aprendizado. Não adianta só dar máquina. Se não tiver conteúdo pedagógico e infraestrutura, você fere de morte a qualidade do gasto e não tem o retorno desejado", diz Risolia.

Andreas Schleicher, chefe de assuntos educacionais da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), avalia com base em dados do Pisa que, por enquanto, os computadores ainda não conseguiram revolucionar o aprendizado de forma definitiva.

Relatório da entidade aponta que sistemas educacionais que investiram pesadamente em tecnologias não produziram melhorias perceptíveis nos testes do Pisa para leitura, matemática ou ciência.

"Estudantes que usam tablets e computadores com maior frequência tendem a alcançar resultados piores do que aqueles que usam moderadamente", disse Schleicher em artigo recente.


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