Folha de S. Paulo


Dúvida sobre INSS dá força a planos de previdência privada

Previdência mais robusta

O brasileiro aumentou as contribuições para a previdência privada em 2015, ano marcado pelas incertezas econômicas, discussões sobre corte nos benefícios sociais do governo e mudanças nas regras do INSS.

A arrecadação dos planos deve crescer entre 15% e 18% neste ano, segundo a Fenaprevi (Federação das Empresas de Previdência Privada). Será uma das poucas opções de investimento em expansão neste ano, que terá contração de 3% no PIB.

Parte do movimento se deve à entrada de novos participantes, que hoje somam 12,2 milhões no país, mas também há os clientes antigos que elevaram a aplicação mensal para conseguir obter uma renda equivalente à atual ao se aposentar, segundo Lúcio Flávio de Oliveira, vice-presidente da Fenaprevi e presidente da Bradesco Vida e Previdência.

Na Brasilprev, os aportes mensais médios cresceram 63,2% nos últimos seis anos -passaram de R$ 223 em 2010 para R$ 364 neste ano até setembro. "Não existe abalo nesse mercado. Os clientes estão pensando mais no futuro, seja para não depender do governo na aposentadoria ou para ter uma vida melhor", diz Soraia Fidalgo, gerente de inteligência e gestão da Brasilprev.

O aumento das aplicações tende a acompanhar o crescimento profissional de quem tem esses planos. Conforme a renda aumenta, cresce o percentual mensal investido. Mas a crise também tem sua parcela de contribuição, afirma Gabino Neto, economista da gestora Áquilla.

"Quando o país passa por uma situação turbulenta e a confiança fica abalada, a pessoa pensa mais no futuro. Não sabe se vai continuar com seu emprego. Então, aumenta os aportes na previdência, que pode ser descontada do pagamento", diz.

Arrecadação em alta

INSTABILIDADE

Pesquisa da Icatu Seguros com 400 clientes em todo o Brasil reforça essa percepção. Segundo o levantamento, 60,6% pretendem aumentar o investimento em previdência privada. "A instabilidade nas regras da Previdência Social tem aumentado a atratividade dos planos privados", avalia Felipe Bottino, gerente de produtos da Icatu.

Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff sancionou a fórmula de previdência conhecida como 85/95, que soma o tempo de contribuição à idade e funcionará como uma alternativa ao fator previdenciário.

"Essas mudanças levam as pessoas a pensarem mais na aposentadoria", afirma Fabiano Lima, diretor de previdência da SulAmérica. Na empresa, a média mensal de aportes é de 6% da renda bruta. "Quem ganha acima do teto pago pelo INSS [hoje, R$ 4.663,75] ou não vai conseguir atingir esse valor recorre ao plano de previdência", disse.

Para Richard Jackson, presidente do Global Aging Institute, o modelo de previdência pública adotado no Brasil está sujeito a mudanças consideráveis nas regras, especialmente devido ao envelhecimento da população.

"Os brasileiros precisam entender que depender da Previdência Social é arriscado em uma sociedade que envelhece. Sistemas como o do Brasil funcionam bem quando a população é jovem e está crescendo. Conforme a população envelhece, o custo aumenta rapidamente", diz.

Raio-x

DESEMPREGO

Apesar do crescimento da arrecadação neste ano, os gestores de previdência privada temem que o aumento do desemprego reduza o ritmo das contribuições e ainda eleve os resgates dos beneficiários.

"Temos visto que o resgate costuma ser a última alternativa do segurado para levantar dinheiro. Antes, diminui o valor dos aportes ou a periodicidade das aplicações", diz Felipe Bottino, da Icatu Seguros.

Como ocorre nas demais aplicações, o desempenho dos fundos de previdência também têm perdas com as oscilações do mercado. Uma forma de mitigar perdas é diversificar as aplicações em fundos diferentes. Outra é assumir mais risco (e possibilidade de retorno) enquanto for jovem, adotando uma posição mais conservadora nos anos antes da aposentadoria.


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