Folha de S. Paulo


Ignorando crise hídrica, parques aquáticos impulsionam turismo no interior de SP

Ignorando a crise hídrica que afeta boa parte do Estado de São Paulo há vários meses, a cidade de Olímpia (438 km de São Paulo), no noroeste paulista, vive um boom no setor de turismo oferecendo o que mais anda em falta no mercado: água.

Graças às suas águas termais, que atingem mais de 40º C e fazem a fama do pioneiro parque Thermas dos Laranjais, Olímpia passou de 667 leitos na rede hoteleira, em 2009, para quase 20 vezes mais neste ano.

A cidade tem hoje cerca de 14 mil leitos em hotéis –se todos forem ocupados, haverá um turista para cada três moradores de Olímpia, cidade com de 53 mil habitantes.

Como comparação, Ribeirão Preto, com 650 mil habitantes, tem 11.200 leitos.

E a vocação turística de Olímpia pode crescer: estimam-se investimentos de R$ 1 bilhão entre 2013 e 2018, com mais um parque aquático e mais piscinas até o final deste período.

Hoje, a cidade tem 17 hotéis, 64 pousadas, quatro hotéis-fazenda e quatro resorts.

"Um investimento está puxando o outro. Além dos leitos já existentes, estamos com mais de 6.000 em construção e, até 2018, chegaremos a 20 mil", afirmou o prefeito Geninho Zuliani (DEM).

SOB CRÍTICAS

A exploração comercial de um dos produtos mais escassos e valorizados do momento, porém, é criticada por ambientalistas e autoridades.

A Thermas dos Laranjais, que deu início ao boom turístico, enfrenta desde 2008 uma batalha judicial com o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), por utilizar água de um de seus dois poços sem autorização.

O parque aquático extrai cerca de 117 milhões de litros de água por mês –o suficiente para abastecer uma cidade de 20 mil pessoas– do aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce subterrânea do mundo.

Vice-presidente e arquiteto do Thermas dos Laranjais, Jorge Noronha diz que toda a água das piscinas é devolvida a um lago interno e bombeada para uma estação de tratamento própria, sendo reaproveitada no parque.

O novo parque aquático, o Hot Beach, ainda maior do que o Thermas, deve consumir mais cerca de 27 milhões de litros. "Vamos extrair água do aquífero Guarani, a 1.100 m, mas depois ela será reciclada. Captaremos de poços para os quais já temos autorização e, após o uso, ela será bombeada até a estação de tratamento de água, para que a prefeitura forneça à população", diz o presidente do grupo responsável pelo parque, Newton Ferrato.

Ele diz não ser contraditório investir num cenário de crise hídrica, pois não há risco de a água "acabar".

"Num parque aquático desse porte, se tiver volume de 100 mil a 150 mil litros de vazão por hora, com o poço ligado seis horas por dia, será mais que suficiente."

O anúncio de novos empreendimentos preocupa especialistas como Flávio de Paula e Silva, do laboratório de estudos de bacias da Unesp Rio Claro.

Para ele, a água utilizada nos parques náuticos e hotéis deve ser fiscalizada, para que não haja excesso de retirada.

"O cuidado que tem de se ter é o de não poluir e de não desperdiçar. O que aconteceu normalmente nesses clubes, no início, quando os termas surgiram, é que a água não tinha custo. E o DNPM não se preocupava com isso. Falava-se muito pouco em aquífero Guarani, não havia preocupação com água, que era abundante e sobrava. Com o passar do tempo, o DNPM resolveu regularizar esses empreendimentos."

MAIS INVESTIMENTOS

Já o prefeito Zuliani afirma que a meta é continuar crescendo: construir um parque "seco", além de um kartódromo e um aeroporto –uma área de cinco alqueires (121 mil m²) foi desapropriada.

O grupo Ferrasa, por exemplo, anunciou neste mês a construção de um hotel com 442 apartamentos e investimento de R$ 110 milhões, que deve ser entregue até 2018.

Antes, em 2016, deve ser inaugurado o Hot Beach Resort, além do parque aquático homônimo. Também do mesmo grupo, o resort Celebration abriu neste ano.

Quando todos os projetos estiverem inaugurados, o grupo administrará 1.238 apartamentos na cidade e terá investido cerca de R$ 500 milhões –dinheiro obtido com a venda das unidades, investidores e parceiros.


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