Folha de S. Paulo


Inflação fica perto de 10% em 12 meses com alta de combustíveis e alimentos

Pressionada pelo aumento dos preços dos combustíveis e da alimentação, a inflação oficial brasileira, medida pelo IPCA, acelerou forte em outubro e chegou a 9,93% no acumulado dos últimos 12 meses.

Os dados foram divulgados na manhã desta sexta-feira (6) pelo IBGE.

É a maior alta para um período de 12 meses desde novembro de 2003 (11,02%), quando, afetado pela incerteza do primeiro governo Lula, o índice acumulou pela última vez uma taxa de dois dígitos.

Isoladamente, dentro de outubro, o IPCA foi de 0,82%, acelerando em comparação a setembro deste ano (0,54%) e do mesmo mês do ano passado (0,42%).

Inflação - Variação do IPCA, em %

Trata-se do índice mais elevado para meses de outubro desde 2002, quando atingiu 1,31%, em meio ao processo eleitoral daquele ano.

Os números estão em linha com as estimativas de economistas divulgadas pela agência internacional Bloomberg, que esperavam IPCA de 9,91% para 12 meses e de 0,80% para o mês.

O índice passou a acumular assim um avanço de 8,52% no ano, bem acima do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 6,5% neste ano —o centro é de 4,5%.

Esta taxa acumulada no ano é a mais alta desde a vista entre janeiro e outubro de 1996 (8,70%), quando o país ainda lutava para domar a inflação elevadas do período anterior ao Plano Real.

GASOLINA

Individualmente, o principal responsável pelo aumento da inflação, a gasolina, ficou 5,05% mais cara para os consumidores em outubro, segundo os dados do IBGE. É um impacto de 0,19 ponto percentual na inflação.

Os combustíveis ficaram mais caros após o reajuste promovido pela Petrobras em suas refinarias. A estatal anunciou, no fim de novembro, alta de 6% no preço da gasolina e de 4% no diesel.

Segundo o IBGE, o aumento de 1% do preço da gasolina nas bombas provoca impacto de 0,04 ponto percentual na inflação, considerando o peso que o produto tem no orçamento das famílias.

Além da gasolina, o etanol ficou 12,29% mais caro no mês, o que seria efeito da entressafra da cana-de-açúcar. Como pesa menos no orçamento das famílias, o impacto foi de 0,10 ponto percentual na inflação.

Quedas e altas - Maiores mudanças de preços em out.2015, em %

Combinados, os dois aumentos —da gasolina e do etanol— fizeram os preços dos combustíveis ficarem 6,09% mais caros no mês. Isso representou um impacto total de 0,3 ponto percentual de 0,82% do IPCA de outubro.

O aumento dos combustíveis é uma incerteza a mais para complicado cenário de inflação do país. Após o reajuste da Petrobras, parte do mercado passou a prever uma inflação igual ou superior a 10% neste ano.

O banco Credit Suisse, por exemplo, prevê inflação de 10% em 2015. Já o banco Fator projeta a inflação em 10,26% neste ano.

Os economistas consultados para o boletim Focus, do Banco Central (BC), ainda preveem na média inflação abaixo dos dois dígitos. O centro das previsões (mediana) é de um IPCA em 9,91% no fechamento de 2015 e 6,29% no de 2016.

O risco de a inflação ficar ainda maior é o governo decidir elevar o imposto da gasolina em R$ 0,10 por litro, para R$ 0,60. Seria uma alternativa para o governo que enfrenta dificuldade para aprovar a CPMF.

Para combater o aumento de preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a Selic (taxa básica de juros) para 14,25% ao ano.

Inflação - Por grupos, segundo o IPCA no mês de outubro.2015, em %

TRANSPORTE E ALIMENTAÇÃO

Com o avanço dos preços dos combustíveis, a inflação do grupo de transportes acelerou de 0,71% em setembro para 1,72% em outubro, segundo os dados do IBGE.

Além dos combustíveis, pesaram também no mês o avanço dos preços das passagens aéreas (4,01%), pneus (0,94%) e do ônibus intermunicipal (0,84%).

Outro impacto relevante para a inflação do mês veio do grupo alimentação e bebidas, um dos mais importantes da cesta de consumo das famílias. Neste caso, a inflação acelerou de 0,24% para 0,77% na passagem dos meses.

Na passagem dos meses, houve aumento de preço de grande parte dos produtos alimentícios. É o caso do frango inteiro (5,98%), do açúcar cristal (4,43%), do alho (4,12%) e da cerveja (4,06%).

Esse aumento, no entanto, era esperado pelos economistas. Outubro tradicionalmente é um mês em que há aumento desses preços. Segundo o IBGE, eles mais subiram em Belém (1,61%) e menos no Rio (0,28%).

Inflação na regiões - Variação acumulada em 12 meses, em %


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