Em um momento turbulento para os mercados emergentes, investidores têm que separar os "vencedores" dos "perdedores" e filtrar suas apostas. O Brasil está no segundo grupo, afirmam gigantes do mercado financeiro.
Em um evento da Bloomberg nesta quinta-feira (21), em Nova York, o diretor da BlackRock, maior gestora de recursos de capital aberto do mundo, criticou a morosidade com que o Brasil "se ajusta ao novo mundo".
"Vemos vulnerabilidade nos países onde o ambiente político não tem conduzido reformas. Agilidade e amortecedores é o que buscamos; a ausência desses elementos faz com que o país seja um perdedor", disse Pablo Goldberg, que citou nesse grupo Brasil, Venezuela e Equador.
À Folha, ele afirmou que espera uma recuperação do Brasil, "no mínimo", em 2017, o que depende essencialmente da "reconstrução de credibilidade". "Se a perspectiva fosse mais favorável, o governo poderia negociar parte do ajuste fiscal para o futuro."
"O que é assustador é que o jogo político não leva a lugar nenhum. É preciso focar o estado da economia."
O país foi criticado também pelos integrantes da mesa, formada por representantes das gestoras Alliance Bernstein e TCW e do banco Wells Fargo, além do moderador, o repórter especial da Bloomberg Gavin Serkin.
Questionado pela plateia sobre os "países que saíram de moda —Indonésia, Rússia e Brasil", Derrick Irwin, gerente do Wells Fargo, zombou: "Excelentes países... Não tem nenhum outro do qual podemos falar?".
Para ele, "se e quando o Brasil se recuperar", as empresas altamente qualificadas sairão em vantagem. Paul DeNoon, diretor da Alliance Bernstein, concordou que investimentos devem priorizar companhias mais robustas.
David Robbins, diretor da TCW, causou riso ao "deixar o Brasil para os colegas". Segundo ele, Rússia e Indonésia já ensaiam uma retomada. "O Brasil é um daqueles países que enfrentam dificuldades devido ao declínio do ciclo de commodities, mas também devido a questões estruturais. A superação vai demorar mais por causa do escândalo em curso."
O moderador passou a palavra a Goldberg, da BlackRock, especializado em Américas: "O Brasil é problema seu, Pablo". Goldberg lembrou que, no mesmo dia em que a agência Standard & Poor's rebaixou o Brasil a grau especulativo, o país registrava a menor criação de empregos em 15 anos.
"São motivos de preocupação, mas precisamos ver qual será o ponto de reversão", disse. "Estive no Brasil há duas semanas e estava barato! Pela primeira vez em dez anos, você pode ir a um restaurante e pegar um táxi e não pagar caro."
Para ele, a crise vai favorecer a indústria de manufaturas e a substituição de importação. A mesa concordou que o apetite por mercados emergentes sobreviverá à desaceleração chinesa.