Folha de S. Paulo


Ajuste fiscal importa mais que Dilma, afirma diretora da agência Fitch

Um impeachment da presidente Dilma Rousseff só afetaria negativamente a classificação de risco do Brasil caso prejudicasse a continuidade do ajuste fiscal no país. Essa é a avaliação da Shelly Shetty, diretora sênior de ratings soberanos da Fitch.

"Se esse cenário se materializasse, teríamos que avaliar como isso afeta a confiança e as políticas e o que pode significar para o cenário fiscal, a perspectiva de crescimento e os desafios para a governabilidade", disse à Folha.

Na avaliação da analista, o primeiro passo para evitar um novo rebaixamento é um acordo com o Congresso para dar andamento às medidas de melhoria das contas do país.

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Folha - O que a Fitch espera agora para o Brasil?

Shelly Shetty - A perspectiva negativa sugere que há mais de 50% de chance de a classificação de risco do Brasil sofrer novo rebaixamento em período entre 12 e 18 meses.

Os pontos que listamos como sensíveis [dificuldade de consolidação fiscal ou desempenho econômico abaixo do esperado, riscos políticos e deterioração da dívida] mostram que há riscos negativos adiante.

A agência já agiu antes do prazo em outras ocasiões. É uma possibilidade?

Claramente o cronograma pode ser diferente do nosso prazo usual, e isso vai depender de como os pontos sensíveis evoluem. Isso é o que realmente determina a hora de agir.

Se aprovadas, as medidas já anunciadas pelo governo são suficientes? Ou é preciso fazer mais?

Neste momento, a paralisação política está impedindo qualquer discussão significativa sobre as medidas do ajuste fiscal.

O governo ressaltou suas intenções de cumprir as metas, mas para fazer isso é preciso ver mais progresso no Legislativo —e o que estamos vendo é que há um risco claro de que elas não não passem.

Como o impeachment afetaria a perspectiva para o país?

A perspectiva de um impeachment ainda é muito incerta e os eventos recentes só ilustram as dificuldades nesse processo. Os riscos aumentaram, sim, mas é muito difícil saber a real probabilidade. Se esse cenário se materializasse, teríamos que avaliar como isso afeta a confiança e as políticas e o que pode significar para o cenário fiscal, a perspectiva de crescimento e os desafios para a governabilidade.

O impeachment é necessariamente ruim? Pode levar ao rebaixamento?

É difícil de dar uma resposta concreta para isso. Poderia ser negativo, mas isso teria de ser avaliado no momento em que acontecesse para saber como realmente impacta a economia e a trajetória fiscal a partir de então.


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