Folha de S. Paulo


Escolas ensinam empreendedorismo a crianças e jovens em São Paulo

Karime Xavier/Folhapress
Biblioteca do Colégio Anglo 21, prédio projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas nos anos 1960
Biblioteca do Colégio Anglo 21, prédio projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas nos anos 1960

A rotina de Luiggi Iamamoto de Camargo, 17, não é a mesma de qualquer aluno de terceiro ano. Depois da escola, ele administra o pet shop que abriu junto com seu tio.

Camargo decidiu criar o negócio ao notar uma demanda não atendida por ração de cachorro no bairro onde mora, o Jardim Monte Kemel, na zona oeste de São Paulo.

Para fazer o plano de negócio, o adolescente se baseou nas aulas de empreendedorismo que teve no colégio Guilherme Dumont Villares (GDV), no Jardim Londrina.

"Aprendi a me relacionar com o cliente, a fazer a parte do marketing e contabilidade. É bom ser empreendedor porque posso criar o perfil que quiser para o estabelecimento", diz Camargo.

O GDV foi a primeira escola de São Paulo a adotar um programa do Sebrae-SP para jovens empreendedores no ensino fundamental, em 2003. Os estudantes interessados montam planos de negócios, desenvolvem produtos e, no fim do ano, participam de uma feira.

Em 2014, 190 escolas do Estado participaram do programa, totalizando 26 mil alunos. O Sebrae-SP oferece cursos gratuitos de capacitação para os professores e disponibiliza material didático aos estudantes de todos os anos do ensino fundamental.

Já alunos do ensino médio do GDV, como Camargo, têm aulas com a consultora de marketing Polyana Giardino, 32. "Ensinamos como montar um site, trabalhar networking, gestão, finanças. Além disso, acompanhamos como estão os negócios de cada um", diz a professora.

A partir do ano que vem, a aula será obrigatória no currículo da escola.

AUTONOMIA

Para o professor de administração da Fundação Getulio Vargas Gilberto Sarfati, 43, o objetivo de ensinar a empreender desde cedo não é necessariamente que os alunos abram negócios, e sim desenvolver seu senso de responsabilidade.

Diego Padgurschi/Folhapress
Luiggi de Camargo, 17, com um beagle no petshop que criou a partir de aulas de negócios
Luiggi de Camargo, 17, com um beagle no petshop que criou a partir de aulas de negócios

"É uma oportunidade para a escola não ficar contida nela mesma e ensinar os jovens a resolver problemas de forma autônoma."

Segundo Sarfati, a aceitação da cultura empreendedora avançou muito nos últimos anos no Brasil.

Como exemplo, ele cita o currículo das escolas municipais de São José dos Campos, em São Paulo. Em 2013, a cidade adotou aulas de educação do consumidor e fiscal, além de turismo. Os estudantes produzem projetos turísticos para a cidade, em uma ação que visa ainda a integração com o espaço público.

"A visão social do empreendedorismo fomenta o sentimento de pertencimento e cria formas de melhorar a vida das pessoas", afirma Roseli Ferreira, 55, que coordena o ensino profissionalizante da prefeitura.

No Liceu de Artes e Ofícios, na região central da capital, há uma disciplina obrigatória de empreendedorismo no terceiro ano desde 2009, que integra o curso técnico. Os alunos desenvolvem projetos com clientes da área de telefonia, automóveis e produtos editoriais.

Em escolas técnicas, é comum que alunos aprendam conceitos de contabilidade e administração, mas isso tem se estendido cada vez mais a escolas com currículo regular, como o Anglo 21, primeira escola própria do grupo.

O colégio anunciou que o empreendedorismo será uma prioridade no currículo da unidade, que abre em 2016 no Alto da Boa Vista, na zona sul. "É bom para desenvolver um senso de propósito nas crianças", diz o diretor Marcel Lima, 37.

Para Neide Saisi, 73, pedagoga e professora de educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), essas iniciativas podem ser positivas caso não se tornem o foco da formação do aluno. "O sucesso profissional não pode ser o objetivo final, e sim ensinar o adolescente a ser crítico e ético."


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