Folha de S. Paulo


Dólar comercial e juros caem com deficit fiscal menor que o esperado

O dólar comercial e os juros futuros fecharam em queda nesta terça-feira (29) após o deficit primário do governo central (que inclui os números do Tesouro, Banco Central e INSS) em agosto ter ficado menor do que o esperado pelo mercado.

A avaliação de analistas consultados pela Folha, no entanto, é de que o alívio é momentâneo, e que as cotações seguem pressionadas pela deterioração do quadro político e econômico no Brasil, além da crise global —com expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos, o que retiraria investimentos do Brasil, e a desaceleração da China.

O dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, fechou o dia em queda de 1,21%, para R$ 4,059 na venda. A moeda enfrentou volatilidade: chegou a cair 2,33% durante o dia, para a miníma de R$ 4,013, e a subir 1,10%, para a máxima de R$ 4,154.

Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,67%, para R$ 4,097 na venda. A cotação não chegou a refletir os dados fiscais que aliviaram a pressão sobre o dólar comercial porque fecha mais cedo, por volta de 14h30 (de Brasília) —mesmo horário em que foram divulgados os números do governo central.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2016 teve queda de 14,910% para 14,795%, enquanto o DI para janeiro de 2021 cedeu para 16,100%, ante 16,420% na sessão anterior.

Os gastos do governo federal superaram as receitas em R$ 5,08 bilhões em agosto, segundo o Tesouro. Apesar de o número indicar que as receitas foram menores que as despesas não financeiras, o que é ruim, ele veio abaixo do centro das estimativas de 22 instituições ouvidas pela agência internacional Bloomberg, que apontava para um deficit de R$ 10,7 bilhões.

Os dados fiscais também chegaram a ajudar a Bolsa brasileira, que subiu até 1,31% ao longo do dia, mas amenizou o ganho no final da sessão. O Ibovespa, principal índice do mercado de ações nacional, fechou em alta de 0,40%, para 44.131 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,12 bilhões —abaixo da média diária do mês, que é de R$ 7 bilhões.

"É um alívio passageiro, especialmente para os mercados de câmbio e juros", disse João Pedro Brügger, analista da Leme Investimentos. "Não há, por enquanto perspectiva de melhora no quadro político, por isso as cotações seguem pressionadas. Mas, no entanto, elas já estão em níveis bastante elevados, o que, ao meu ver, pode limitar o ritmo de avanço daqui para frente", completou.

Para Lauro Vilares, analista da Guide Investimentos, segue no radar do mercado alguns eventos políticos previstos para esta semana, como a conclusão da reforma ministerial.

"A esperada reforma ministerial pode devolver um pouco de governabilidade à presidente Dilma Rousseff e acalmar o mercado. Além disso, é preciso que sejam mantidos todo os vetos presidenciais a projetos aprovados pelo Congresso para barrar a entrada em vigor de medidas que elevariam os gastos federais, como o reajuste do Judiciário", disse.

O dólar e a economia

INTERVENÇÕES

Antes da divulgação dos dados fiscais do governo, o dólar e os juros futuros chegaram a operar em alta, apesar das atuações do Banco Central e do Tesouro Nacional para tentar conter a volatilidade dos mercados.

O Banco Central vendeu pela manhã 20.000 novos contratos de swaps cambiais em uma operação que movimentou US$ 987,6 milhões. A autoridade também deu continuidade aos seus leilões diários para estender a 2016 os vencimentos de swaps que estão previstos para o início de outubro.

Adicionalmente, o BC realizou leilões de empréstimos de até US$ 2 bilhões com compromissos de recompra em 2 de dezembro de 2015 e 4 de janeiro de 2016.

Já o Tesouro realizou um leilão extraordinário para vender cinco milhões de LFT (Letras Financeiras do Tesouro), que equivalem R$ 35,8 bilhões, além de ter resgatado antecipadamente 620 mil NTN-F (títulos prefixados) para 2021, 2023 e 2025, o equivalente a R$ 479,6 milhões.

O Banco Central e o Tesouro têm atuado em conjunto desde a última semana para tentar conter a volatilidade dos mercados de câmbio e de juros que, segundo analistas, é reflexo de preocupações geradas pela crise política e fiscal no país com a possibilidade de o Brasil perder seu selo de bom pagador por outras agências de classificação de risco além da Standard & Poor's.

AÇÕES EM ALTA

As ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, subiram 2,33%, para R$ 6,59 cada uma. Na última sessão, elas atingiram seu menor valor desde 2003. Já as ordinárias, com direito a voto, avançaram 2,35%, para R$ 7,85. Na última segunda-feira, a estatal confirmou a descoberta de petróleo leve nos reservatórios do pré-sal no terceiro poço da área de Carcará, na Bacia de Santos.

Também no azul, a Vale viu sua ação preferencial registrar valorização de 0,23%, para R$ 13,22, enquanto a ordinária caiu 0,66%, para R$ 16,48. Para preservar seu balanço, a mineradora reduziu a remuneração aos seus acionistas neste ano em US$ 500 milhões, destacando incertezas no cenário para as commodities.


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