Folha de S. Paulo


Sites que vendem usados escapam dos ciclos de crise e crescem

Enquanto o comércio varejista teve um recuo de 2,2% no primeiro semestre deste ano de acordo com o IBGE, sites que promovem a venda de usados consultados pela Folha afirmam estar crescendo com a crise.
Tiê Lima, cofundador do site Enjoei, que permite o anúncio e a compra de roupas usadas, conta que em janeiro a empresa recebeu cerca de 150 mil novos anúncios. Em agosto, foram 380 mil.

Segundo ele, outros fatores ajudaram a impulsionar o movimento no site (a empresa recebeu uma injeção financeira de R$ 18 milhões em dezembro de 2014). Mas a crise está entre eles, afirma:
"O nosso negócio é acíclico. Ele sofre pouco com essas oscilações de mercado. E as pessoas ficam mais dispostas a mudar seus hábitos de consumo em momentos como este."

Segundo ele, outra mudança percebida foi no valor gasto no site. Ano passado, o valor médio por compra era de R$ 115. Agora ele caiu para R$ 90, o que indica mais compras de valores mais baixos.

Outra empresa do setor que vem acumulando crescimentos é o portal de classificados OLX, com grande apelo nos usados. Segundo Marcos Leite, diretor comercial da empresa, são publicados no site 300 mil novos anúncios por dia. Nos últimos três meses, o crescimento do total de anúncios foi de 17%.

As categorias com maior aumento no período entre junho e agosto foram moda e beleza (35%), imóveis (25%), itens para casa (24%) e veículos (21%). Segundo Leite, momentos de crise tendem a levar os consumidores a vender itens com maior valor.

No portal WebMotors, de anúncios de veículos, a crise resultou em um aumento de 30% no número total de anúncios entre os meses de janeiro a agosto deste ano, diz Maria Regina Botter, presidente da empresa. Na quarta-feira (16) pela manhã, os anúncios estavam em torno de 282,7 mil.

Segundo ela, o aumento do número de anúncios não é reflexo de um aumento do tempo em que os carros estão levando para serem vendidos. Ele é resultado de um mercado aquecido.

"O cenário de crise econômico nos ajudou de alguma forma, pois os usados, que são grande parte do nosso estoque, continuam circulando e substituindo os novos."

No setor automotivo, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) relatou queda de 20,7% nas vendas do primeiro semestre. Enquanto isso, as vendas de carros usados cresceram 4,2%, de acordo com a Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores).

NICHOS

Aproveitando o momento de valorização dos usados, novas empresas buscam seu espaço na internet atendendo nichos específicos.

Em setembro, a Omni Financeira lançou o portal Meu Usado Novo, especializado em anúncios de carros com mais de dez anos.

Rodrigo Del Claro, diretor de marketing da empresa, afirma que a ideia do portal é conquistar clientes com menor poder aquisitivo colocando em destaque carros que, em outros portais, ficam escondidos. O valor médio deles fica em torno de R$ 10 mil.

Até agora 5.000 revendas de automóveis estão cadastradas no portal para anunciar seus veículos antigos.

O mercado de luxo também vem sendo explorado. A empresa Etiqueta Única revende roupas e acessórios de marcas do segmento que passam por processo de certificação de autenticidade feito pela companhia para garantir que as peças não são réplicas de originais das grifes..

Segundo Patrícia Sardenberg, fundadora da empresa, as vendas do Etiqueta Única crescia cerca de 10% ao mês até o início deste ano. A velocidade do aumento passou para 40% –a companhia não revela o valor de seu faturamento.

"Independentemente de crise, a consumidora do luxo tem tem o desejo de continuar comprando, mesmo que seja preciso um esforço a mais. E ela se sente menos culpada quando pagando metade do preço."


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