Folha de S. Paulo


Piora nas contas públicas pressiona dólar e impede inflação menor, diz BC

A alta recente do dólar está relacionada, principalmente, à decisão do governo de reduzir as metas de economia do setor público para 2015 e 2016, segundo o Banco Central. A instituição diz ainda que não será possível reduzir a inflação em 12 meses de quase 10% para 4,5% no fim de 2016 sem que haja uma "ancoragem" das expectativas do mercado na área fiscal.

O diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva, apresentou nesta quinta-feira (24) gráficos que mostram o início da disparada do dólar a partir de 22 de julho, data em que os ministérios da Fazenda e do Planejamento reduziram as metas fiscais.

"O câmbio começou a evoluir de maneira mais desfavorável a partir da revisão de meta de julho. E evoluiu ainda de maneira mais desfavorável quando houve o envio do Orçamento de 2016 apontando deficit primário [no fim de agosto]", afirmou o diretor.

O gráfico mostra ainda que o dólar decolou após o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência S&P, no início de setembro, influenciada também pela revisão das metas fiscais, segundo Awazu.

De acordo com o diretor, as revisões feitas pelo governo foram além do que o mercado reconhecia como natural diante do quadro econômico mais complicado que o país vem enfrentando.

"O componente fiscal está afetando prêmios de risco e pode desancorar as expectativas de inflação", afirmou. "A política monetária necessita de ancoragem fiscal para assegurar a convergência da inflação à meta de 4,5% no final de 2016."

A meta de superavit de 2015 foi revista de 1% para 0,15% do PIB. A de 2016, de 2% para 0,7%.

Awazu afirmou que é necessário reverter a situação econômica para que ela retorne ao quadro de julho de 2015. Disse ainda que o governo está agindo nesse sentido. Sem isso, segundo o diretor, a piora no risco país e seus efeitos sobre o dólar, por exemplo, podem se tornar permanente.

"Temos visto os ministros das áreas específicas se empenharem. O que é importante para retornarmos a uma situação em que o que parece hoje mais permanente pode se tornar mais transitório", afirmou.

SANGUE FRIO

Em relação à atividade, a instituição manteve o discurso de que o crescimento só virá pela melhora na confiança na economia, o que depende da queda da inflação e do ajuste na área fiscal.

Questionado sobre a piora nas projeções de inflação do próprio BC para 2016, o diretor disse que "é preciso ter calma e sangue frio".

"Calma e sangue frio não é complacência, não é cegueira. É apenas analisar as coisas para tomar a melhor decisão possível, diante das informações que ainda estão por surgir", afirmou. "O ano que vem não vai ser um ano de descontrole inflacionário. A inflação passada não vai ser a inflação futura, que vai baixar significativamente".


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