Folha de S. Paulo


Banco Mundial amplia faixa de pobreza

Ye Aung Thu/AFP
TOPSHOTS Migrants, who were found at sea on a boat, collect rain water at a temporary shelter near the Kanyin Chaung jetty to MeeThike sub-township outside Maungdaw township, northern Rakhine state on June 4, 2015. More than 700 migrants found adrift on a fishing boat six days ago disembarked in Myanmar's western state of Rakhine as the US warned it was monitoring their fate
Imigrantes resgatados de barco à deriva pegam água da chuva em abrigo temporário em Mianmar

O Banco Mundial deve fazer a mudança mais dramática na linha de pobreza global em 25 anos. A quantia mínima necessária por dia, abaixo da qual se considera pobreza, deve subir 50%. O movimento vai provavelmente engrossar as estatísticas dos pobres no mundo em dezenas de milhões.

O aumento do valor, de US$ 1,25 para cerca de US$ 1,90 por dia –em paridade do poder de compra (PPP), ou seja, considerando o poder de compra equivalente a essa quantia, em cada país–, seria a maior revisão desde que o Banco Mundial lançou seu critério de pobreza global, de US$ 1 por dia em 1990.

Os líderes mundiais se reúnem nesta sexta na sede da ONU para se comprometer com 17 novos "objetivos de desenvolvimento sustentável", destinados a orientar a política de desenvolvimento para os próximos 15 anos.

O primeiro e mais importante é a erradicação até 2030 da "extrema pobreza em todos os lugares", definida pela linha do Banco Mundial.

Espera-se que o banco acompanhe o evento, mudando sua linha de pobreza para cerca de US$ 1,90, antes de suas reuniões anuais em Lima, no Peru, no início de outubro –um movimento que deve resultar em mudanças significativas na estimativa da quantidade e da distribuição dos pobres no mundo.

É difícil prever exatamente quantas pessoas a mais serão definidas como pobres. No entanto, quando pesquisadores do banco testaram uma linha de pobreza de US$ 1,92, no início deste ano, o aumento foi de 148 milhões.

A maior parte da diferença foi no Leste da Ásia, onde o número daqueles abaixo da linha de pobreza quase duplicou, passando de 157 milhões na antiga medida para 293 milhões.

Na América Latina, o resultado foi um aumento de 8 milhões, ou mais 25%, chegando a 37 milhões. No Sul da Ásia o número cresceu 7 milhões, alcançando 407 milhões. Sob essa linha a África subsaariana permaneceu em cerca de 416 milhões.

Em entrevista ao Financial Times, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, disse que a decisão de ajustar a linha de pobreza era uma atualização necessária devido aos novos dados sobre o poder de compra. A nova linha, disse, foi "muito bem analisada" por especialistas do banco em pobreza.

O movimento segue mais de um ano de discussões e o lançamento das novas estimativas de PPP, destinadas a permitir uma melhor comparação do poder de compra relativo dos consumidores ao redor do mundo e do tamanho das economias.

A mudança deve renovar um debate sobre a linha de pobreza do Banco Mundial.

No início deste ano, a instituição recrutou uma nova comissão liderada pelo economista britânico Anthony Atkinson para examinar maneiras de medir a pobreza e atualizar a linha existente.

Entre seus membros está Angus Deaton, economista de Princeton e crítico persistente de uma linha de pobreza que ele diz ter sido enganosa por anos. "Você tem uma linha que ninguém sabe onde botar, a PPP que muda e dados subjacentes ruins. É uma espécie de problema estatístico dos infernos."

A administração da linha de pobreza do Banco Mundial também demonstrava uma pitada de conflito de interesse, disse ele, já que a principal tarefa do banco era o combate à pobreza, medida por ele próprio. "Acho que eles têm algum viés institucional no sentido de encontrar mais pobreza em vez de menos."


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