Folha de S. Paulo


Minilojas se perdem no controle dos estoques

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Maria Selma Alves de Oliveira, sócia do mini mercado Superação, que vende frutas e legumes na Bela Vista (São Paulo)
Maria Selma Alves de Oliveira, sócia do mini mercado Superação, que vende frutas e legumes na Bela Vista (São Paulo)

Sob o risco de faltar capital de giro, o Mini Mercado Superação, uma pequena porta no bairro paulistano do Bexiga que vende verduras e outros itens de abastecimento industrializados, mudou toda a gestão de seu estoque.

"Passei a fazer menos compras porque as minhas vendas caíram. Se antes eu pedia 15 caixas de cerveja por semana, hoje eu compro três. Agora eu só compro de novo quando a minha mercadoria acaba", diz Maria Selma Alves de Oliveira, dona do mercadinho, que é um microcosmo do que hoje se passa nos depósitos do varejo brasileiro em geral.

O PESO DO ESTOQUE - Indicador do volume de compras estimado para os três meses seguintes, em pontos
Volume de compras previsto

Segundo a Neogrid, multinacional especializada em gestão de estoque que reúne informações de mais de 10 mil lojas que comercializam bens não duráveis no Brasil, o varejo começou a suspender pedidos para a indústria nos últimos meses.

O ímpeto de comprar para abastecer seus estoques despencou no grupo que reúne o varejo de alimentos, bebidas e fumos, representado por estabelecimentos de menor porte.

O indicador do Ibre/FGV que aponta a proporção de empresas que pretendem comprar menos de seus fornecedores no trimestre seguinte passou de 109,3 pontos em junho para 102,8 em agosto.

"A curva indica que esse varejo de menor porte constatou a situação com alguma defasagem, se observarmos que o grupo de supermercados e hipermercados já vinha calibrando isso desde o fim do ano passado", diz o economista do Ibre Aloisio Campelo, que elaborou os dados.

O indicador do volume de compras previstas dos maiores grupos caiu já no ano passado, de 118 em outubro para 107,9 em novembro.

MENOS TECNOLOGIA

A defasagem na decisão de reduzir a reposição de estoques e a dificuldade de manter o fluxo de caixa são maiores para o varejo de pequeno e médio porte pois seu estoque é menos controlado que o dos grandes, que possuem sistemas de informação mais eficientes, explica o professor da FGV Maurício Morgado.

Olegário Araújo, diretor da consultoria Inteligência de Varejo, aponta que os pequenos comerciantes têm feito menos pedidos a seus fornecedores devido aos problemas de capital de giro.

Segundo o presidente da Abad (associação de distribuidores), José do Egito Filho, eles estão "fracionando mais as compras para tentar errar menos".

Os pontos de venda que mais sofrem são aqueles com até quatro caixas registradoras, que toma decisões de compra de forma empírica, segundo Rafael Rojas Filho, sócio da Target Sistemas, especializada em tecnologia para o setor de distribuição.

"Temos visto acontecer um aumento da inadimplência do varejista com o distribuidor. Primeiro vem esse problema de caixa e o segundo passo é comprar menos ou deixar de comprar", diz.


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