Folha de S. Paulo


análise

Brasil é o emergente mais próximo de sofrer novo rebaixamento

Quem é o próximo na fila para um rebaixamento de classificação de crédito, depois do Brasil?

Um lugar para procurar a resposta é o mercado. Nossa avaliação sugere que, mesmo depois de ter sido rebaixado ao grau especulativo pelo Standard & Poor's, o Brasil continua a apresentar o maior risco de um novo rebaixamento, entre os grandes mercados emergentes.

Rússia, Turquia e África do Sul também parecem propensos a passar por isso.

Reproduzimos um exercício realizado pelo economista Simon Quijano-Evans, do Commerzbank, que comparou os preços em dólar de "credit default swaps" (CDS, uma espécie de seguro contra calote que serve como indicador ágil quanto às percepções de risco de cada país) de determinados países às suas classificações de crédito médias por Standard & Poor's e Moody's, duas das três grandes agências de classificação de crédito (a terceira é a Fitch), que tendem a reagir com lentidão.

No caso de países como Brasil, Rússia, Turquia, África do Sul, Nigéria, Colômbia, Peru e Malásia, o risco atribuído pelo mercado (ao cobrar mais caro pelo "seguro contra calote") é mais alto que o apontado pelas agências.

Já países como Portugal, Romênia, Irlanda, Espanha ou Filipinas são percebidos pelo mercado como tendo risco menor que o da nota de crédito das agências.

Outro lugar que pode propiciar um bom ponto de observação são os números macro. Win Thin e seus colegas na Brown Brothers Harriman (BBH) empregam um índice ponderado composto por 15 indicadores macroeconômicos e políticos a fim de produzir um modelo implícito de classificação, que segundo eles se provou útil para prever as mudanças de classificação determinadas pelas agências.

O modelo da BBH sugere que a classificação do Brasil deveria ser BB-, ou seja, dois graus mais baixa do que a nova classificação conferida ao país pela Standard & Poor's.

Isso significa três graus abaixo de sua classificação pela Moody's, que confere ao país o grau de investimento, e quatro graus abaixo da classificação da Fitch, que posiciona o Brasil também com status de bom pagador.

A BBH acredita que seja apenas questão de tempo para que as outras agências acompanhem a Standard & Poor's. "Os números do Brasil são espantosamente ruins", diz Thin. "É praticamente a tempestade perfeita em termos de condições internas e externas."

A mais recente revisão trimestral da BBH sobre seu modelo de classificação foi publicada no fim de julho. Thin atualizou o dado do Brasil após seu rebaixamento, mas não reaplicou o modelo para Rússia, Turquia e África do Sul, seus três principais candidatos a um rebaixamento de seus papéis públicos.

"Mas podemos presumir que a situação dos três tenha piorado", ele diz.

Sem essa revisão, a Rússia tem classificação BB- no modelo da BBH: dois graus abaixo da classificação de Standard & Poor's e Moody's e três graus abaixo da Fitch, a única que ainda confere grau de investimento a Moscou.

Para a BBH, a África do Sul perderia o grau de investimento que hoje é concedido ao país pelas três agências.

A Turquia também ficaria em situação pior.

"Nós todos passamos os últimos dez anos falando sobre como os mercados emergentes eram fortes, por causa de seus ótimos fundamentos", afirma Thin.

"Sou tão culpado quanto todo mundo mais. Mas exageramos na história dos fundamentos. A realidade é que tivemos só um grande boom de commodities."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: