Folha de S. Paulo


Designer israelense cria roupas em impressoras 3D

Nir Elias/Reuters
A estudante de designer israelense Danit Peleg fala para blogueiras sobre impressão de roupas em 3D em conferência em Tel Aviv
A estudante de design israelense Danit Peleg fala sobre impressão de roupas em conferência em Tel Aviv

Vai viajar? Não precisa levar malas. É só imprimir as roupas e os sapatos no hotel.

Esse futuro não é muito distante, segundo a designer israelense Danit Peleg, 27, que fez o primeiro desfile de moda com roupas inteiramente produzidas por impressoras em três dimensões (3D) em Tel Aviv, em 5 de julho. Nesse dia, ela apresentou sua coleção de cinco modelos como parte do trabalho final da Faculdade de Engenharia e Desing2 Shenkar, a mais prestigiada de Israel.

A vida da designer virou de ponta-cabeça desde então. O vídeo de 1 minuto e 51 segundos com partes do desfile se tornou viral e acumula 94 mil visualizacoes no YouTube (sem contar outros milhares no Facebook), levando Peleg a receber mensagens de internautas do mundo todo com elogios, perguntas e convites para palestras.

Ela mostrará o processo de produção, por exemplo, na feira Maker Fair, o maior evento de projetos criativos no estilo "Faça você mesmo" do mundo, visitado por 200 mil pessoas, que acontecerá nos dias 27 e 28, em Nova York.

Nir Elias/Reuters
 Blogueiras de moda vestem modelos da da designer israelense Danit Peleg
Blogueiras de moda vestem modelos da designer israelense Danit Peleg

As roupas fizeram tanto sucesso que Danit começou a receber encomendas para celebridades locais e estrangeiras. Uma cantora americana quer um modelo para o próximo Grammy. O custo, no entanto, ainda é alto. A jaqueta que ela chama de "Liberté" (inspirada no quadro de Eugène Delacroix "Liberdade Guiando o Povo") sairia, para os interessados, por nada menos que US$ 3.000.

Afinal, leva mais de cem horas para ser impressa. E cada hora de trabalho numa impressora 3D é avaliada em US$ 25. Isso sem contar os cilindros de material plástico (a US$ 28 cada um) usado para produzir uma espécie de tecido flexível, o custo da modelagem e da "costura" da roupa -na verdade, colagem. Danit une as partes impressas com uma cola especial.

A jaqueta -que tem a palavra "Liberté" escrita nas costas- foi modelada usando um software chamado Blender. Em outros modelos, Danit experimentou com padrões mais elaborados, que ganharam textura brincando com a espessura das impressões 3D, formando uma espécie de tecido "topográfico".

Outro modelo, uma saia comprida preta e branca desenhada por Danit, sairia por US$ 14 mil. Ela precisa de 500 horas de impressão (cerca de 20 dias). Os sapatos, com 55 horas de impressão, saem mais "em conta": US$ 6.000.

"Mesmo ainda sendo caro e demorado, tem muita gente que quer. Estou vendo como posso produzir em massa, talvez com ajuda de uma empresa de moda", disse Danit à Folha. "Mas, no futuro, todos terão impressoras em 3D em casa e poderão imprimir suas próprias roupas", diz Danit, que pensa em criar uma butique virtual para download de modelos para impressão.

Hoje, já é possível imprimir uma infinidade de objetos com algo em torno de 15 modelos de impressoras 3D, de próteses e órgãos humanos para transplantes médicos a móveis, passando por bijuterias, brinquedos, esculturas e instrumentos musicais. É possível até mesmo imprimir armas de fogo, o que transforma a tecnologia, como tantas outras, em polêmica. Afinal, essas armas não são identificadas por detectores de metais.

Os materiais usados vão desde elásticos a polímeros termoplásticos, resinas e até mesmo nylon. Mas ainda não imprimem tecidos de algodão, o que, para Danit Peleg, é apenas uma questão de tempo.

Sem tecidos de algodão, mas como "fazendas plásticas maleáveis", ela desenvolveu cinco modelos em nove meses de trabalho -incluindo horas a fio diante de impressoras, aguardando que o "tecido" com filamentos de um material chamado FilaFlex (maleável, que lembra renda) ficasse pronto para se transformar em saias, vestidos, jaquetas e até mesmo sapatos (impressos num material mais rígido, o PLA).

"Eu não sabia nada sobre impressão 3D. Comecei a pesquisar e consegui ajuda de especialistas de laboratórios locais, que me ensinaram e, mais importante, deixaram que eu usasse as impressoras em três dimensões", conta Danit, "Eu queria roupas maleáveis, não duras, como alguns designers já produzem. Roupas com sensação de tecido de algodão."

O que mais tomou tempo foi a impressão do material. Foram nada menos do que 2.000 horas para imprimir todas as peças para os modelos, ou cerca de 400 horas por roupa (16 dias de impressão ininterrupta). Cada parte do "mosaico" com o qual as roupas foram criadas foi impressa no tamanho de uma página de papel A4, que demora 20 horas para imprimir.

Desesperada por cumprir o prazo para o desfile, Danit decidiu comprar uma impressora, investindo nada menos do que US$ 2.500 -dinheiro que recuperou ministrando oficinas caseiras de impressão de acessórios em 3D para crianças. Um mês antes do desfile, a designer alugou mais quatro impressoras (a US$ 800) para conseguir produzir todos os modelos

O investimento não parou por aí. A designer desembolsou centenas de dólares em cilindros de material plástico e colas especiais.

"Adorei o fato de que eu poderia criar sem intermediários; poderia desenhar meus próprios tecidos e manufaturar minhas próprias roupas, tudo da minha casa. Não precisava comprar fazendas, poderia fazer a minha própria", afirma Danit.

A designer disse que, depois de internautas americanos, os brasileiros são os que mais têm reagido à novidade na internet. "Descobri que o Brasil tem uma cultura de moda muito desenvolvida, com muito foco na estética!"


Endereço da página: