Folha de S. Paulo


Jeitinho brasileiro é promovido a estratégia no mundo dos negócios

Lula Marques/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 13-04-2011, 14h40: Um homem não identificado que subiu no alto do pavilhão nacional, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, é resgatado pelos bombeiros. Ele rasgou um pedaço da bandeira e ateou fogo, por volta das 11h desta quarta-feira (13). Ele subiu pela escada interna do pavilhão, símbolo máximo da nação, com 100 metros de altura, em frente ao Palácio do Planalto e ao Congresso Nacional, e começou a gritar palavras inaudíveis. A Folha conseguiu ouvir uma referência a
Jeitinho brasileiro foi tema de palestra a empresários

O jeitinho brasileiro foi promovido de vergonha nacional a centro da cultura estratégica brasileira. E com ensinamentos a serem divulgados mundo afora.

Pelo menos ao levar em conta que o modo de agir peculiar foi tema de palestra a empresários ligados à Câmara de Comércio França Brasil (CCFB) na segunda-feira (17), em São Paulo.

O professor responsável pela análise foi o francês Pierre Fayard, do Instituto Franco-Brasileiro de Administração de Empresas (IFBAE), estudioso das culturas estratégicas (principalmente China) e professor da Universidade de Poitiers, na França.

"É um tema que parece pequeno, mas é grande. O jeitinho tem componentes que são vistos como negativos, mas também há alguns que são bem positivos. É uma coisa bem milagrosa para nós, franceses", disse ele à Folha.

Segundo Fayard, o jeitinho se caracteriza por uma mistura de capacidade de achar solução para qualquer problema sem desistir facilmente, cordialidade e uma certa amoralidade.

"Na cultura do jeitinho, a cabeça está aberta a qualquer possibilidade, regular ou não. Vai dar certo e, se não der, ainda não chegou ao fim", disse, ecoando o escritor Fernando Sabino (1923-2004).

Para ele, é espantoso como, durante o período hiperinflacionário dos anos 1980 e 1990, faziam-se negócios no Brasil, o que considera que seria impossível na Alemanha ou na França.

SIMPATIA

Adeptos do jeitinho fogem do conflito direto e, usando de simpatia, adaptam-se às ações do outro para atingir um objetivo específico, algo que lembra os ensinamentos do general chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.), que escreveu o clássico "A Arte da Guerra", diz.

Devido a sua insistência em andar fora da linha, o jeitinho, quando bem aplicado, tende a ficar invisível.

Enquanto EUA e países da Europa glorificam a figura do herói e há literatura explicando suas estratégias, o fenômeno do jeitinho brasileiro, até agora, foi estudado apenas do ponto de vista sociológico, por autores como Roberto DaMatta.

Mas, para evitar que o jeitinho ultrapasse o mundo corporativo e descambe para escândalos nos negócios, Fayard diz que a estratégia brasileira deve ser mais estudada.

Segundo o professor, existem virtudes e limitações. Entre seus defeitos estão seu egoísmo e sua visão de curto prazo.


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