Folha de S. Paulo


Seita religiosa é suspeita de usar fiéis em trabalho análogo à escravidão

Divulgação/PF
Seita fundada em SP é alvo de operação da Polícia Federal por suspeita de manter fieis em situação análoga à escravidão
Seita é alvo de operação da PF por suspeita de manter fieis em situação análoga à escravidão

Pela segunda vez em dois anos, uma seita fundada em São Paulo é alvo de operação da Polícia Federal por suspeita de manter fiéis em situação análoga à escravidão em fazendas comunitárias e movimentar R$ 100 milhões com dinheiro das vítimas.

Os mandados foram cumpridos nesta segunda-feira (17) na capital paulista e em cidades de Minas Gerais e da Bahia. Segundo a PF, foram pedidas seis prisões temporárias e 47 conduções à delegacia para prestar esclarecimentos, além de apreensões e bloqueios de bens como imóveis, veículos e dinheiro.

Um dos presos, o pastor Cícero Araújo, considerado o líder do culto, foi preso em Pouso Alegre (MG).

Os envolvidos podem responder pelos crimes de redução de pessoas a condição análoga à de escravo, tráfico de pessoas, estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Eles teriam comprado, com as doações, terrenos, estabelecimentos comerciais e automóveis.

De acordo com o delegado da PF João Carlos Girotto, quatro integrantes da cúpula da seita foram presos: um em SP, um em Minas e dois na Bahia. A PF não divulgou os nomes.

Três deles passarão a noite em Varginha e devem ser transferidos para o presídio de Três Corações –cidades do sul de Minas. Eles ficarão detidos por até dez dias. Duas pessoas ainda não foram encontradas.

As investigações apontam que os líderes da seita, intitulada "Comunidade Evangélica Jesus, a Verdade que Marca", convenciam os fiéis a doarem o que tinham para conviver em um espaço onde "tudo seria de todos" e eram forçados a trabalhar sem receber pagamento. Já os pastores, diz a PF, circulavam em carros luxuosos.

Depoimentos de pessoas que trabalharam nas comunidades ajudaram a identificar os suspeitos. Ao menos outras duas operações, da Polícia Civil e Federal, já haviam sido feitas contra os líderes da seita, em 2006 e 2013.

"Com a operação de 2013, buscamos ingressar na estrutura da seita e descobrir seu modus operandi. Hoje, temos o panorama completo, sabemos que eles usam laranjas para movimentação de valores", afirma Girotto.

Segundo o delegado, os pastores fazem um "convencimento psicológico" dos fiéis para que eles trabalhem sem receber. Inicialmente, pedem que os bens sejam vendidos e os colocam em isolamento em uma fazenda. Depois, transferem os fiéis para os locais onde cada um irá exercer sua habilidade sem remuneração. "Se a pessoa já trabalhou com combustível, é colocado como frentista em um posto da seita, por exemplo", detalha o delegado.

A PF acredita que cerca de 6.000 pessoas seguiam o culto, acreditando que trabalhavam de graça em benefício da comunidade.

Fundada em 1998, a "Jesus, Verdade que Marca" chegou a rebater as acusações em seu extinto site, creditando as queixas aos "descontentes".

"Assim começaram as primeiras perseguições, calúnias e difamações, começaram a mentir e a formarem opiniões contrárias, julgando-nos e condenando-nos perante às outras comunidades evangélicas cristãs", diz o texto.

Na página, uma nota assinada pelo pastor Araújo também dizia que se colocava "à disposição dos órgãos governamentais" para "qualquer esclarecimento e também a quem interessar possa".

A reportagem procurou o advogado e representantes da igreja, mas não obteve retorno.

OUTRO CASO

Em outro caso envolvendo seita, o norte-americano Victor Arden Barnard, 53, acusado de abuso sexual e de participar de uma seita religiosa, foi preso em ação das polícias federal e militar do Rio Grande do Norte, em Tibau do Sul, litoral sul potiguar, em fevereiro deste ano.

Barnard era um dos 15 foragidos mais procurados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos (U.S. Marshals) e tinha o nome na Difusão Vermelha da Interpol.

Ele é acusado por 59 abusos sexuais como participante da seita religiosa "River Road Fellowship", localizada no estado americano de Minnesota. As jovens abusadas tinham entre 13 e 15 anos de idade.


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