Folha de S. Paulo


China promove desvalorização recorde do yuan para estimular economia

Numa tentativa de estimular as exportações —e, por consequência, a economia— em um momento em que a atividade passa por forte desaceleração, o Banco Popular da China (o banco central do país asiático) anunciou nesta terça-feira (11, noite de segunda-feira no Brasil) uma desvalorização recorde no yuan, a moeda do país.

O crescimento do país está no menor ritmo desde 1989. Apesar de a China ter passado a adotar uma política de estímulo ao consumo interno, a economia ainda é altamente dependente do comércio exterior.

Na China, o câmbio é determinado pelo banco central e flutua dentro de uma banda, que pode variar 2%, para cima ou para baixo, a partir de uma taxa de referência. O que a autoridade monetária fez foi desvalorizar essa taxa em 1,9%. Foi a maior variação desde o fim do regime de câmbio fixo, em 2005.

Até agora, neste ano, a maior desvalorização diária imposta pelo BC chinês havia sido de 0,16%. Logo após o anúncio, a moeda era negociada em queda de 1,3% —cada dólar valia 6,2920 em Xangai.

O BC chinês informou que a taxa de câmbio passará a acompanhar mais de perto as condições de mercado.

A autoridade monetária chinesa vinha resistindo a um movimento mais brusco no câmbio, entre outros motivos, porque poderia dificultar sua demanda ao FMI de transformar o yuan numa moeda oficial de reserva internacional, a exemplo do dólar e do euro.

O Banco do Povo da China chamou a medida de uma "depreciação não recorrente", mas economistas estão divididos sobre o significado da medida. Aparentemente, a decisão reverteu a recente política de manutenção do iuan forte, que tem ajudado a impulsionar o consumo doméstico e os investimentos no exterior.

"Por muito tempo dei crédito ao BC chinês por se manter firme sobre o iuan e reconhecer que, embora pudesse ser tentador tentar fortalecer o modelo antigo de crescimento baseado em depreciação cambial, isso era na verdade um beco sem saída", disse o economista Patrick Chovanec.

Chovanec reconheceu que um iuan mais fraco pode refletir melhor a demanda atual do mercado de estimular as exportações, pois os produtos chineses ficam mais baratos, mas afirmou que um iuan valorizado serviria para um objetivo mais importante: promover uma "dolorosa" transformação da economia, afastando-se da manufatura de baixo custo e caminhando em direção ao consumo.

No sábado, a China anunciou uma queda de 8,3% nas exportações em julho, a maior em quatro meses e muito acima da retração de 1,5% estimada por analistas.

A decisão pode ter efeito negativo sobre o Brasil. A China é um dos maiores importadores de produtos brasileiros, e uma desvalorização da moeda encarece os produtos nacionais.

Embora a redução da taxa de câmbio não vá corrigir todos os males do setor de exportação da China, que sofre com custos trabalhistas crescentes e problemas de qualidade, o economista da Founder Securities Guo Lei disse que a medida ajudará a aliviar a pressão deflacionária, uma preocupação econômica muito mais importante.


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