Folha de S. Paulo


Dólar sobe pelo terceiro dia com crise política; Bradesco derruba Bolsa

A crise política e econômica que afeta o Brasil e ameaça o selo de bom pagador do país faz com que o dólar suba nesta segunda-feira (3), na avaliação de analistas. É a terceira sessão seguida de alta da moeda americana, que, na máxima, alcançou R$ 3,46 sem que o Banco Central sinalize que vai aumentar sua atuação no mercado cambial.

Às 11h14, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha alta de 0,46%, para R$ 3,436. No mesmo horário, o dólar comercial subia 0,29%, também a R$ 3,435.

No mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, caía 0,88%, para 50.419 pontos, às 11h15. A queda era puxada pelas ações do Bradesco, que se desvalorizavam após o banco anunciar a compra da operação brasileira do HSBC por US$ 5,186 bilhões.

A valorização do dólar reflete a expectativa do mercado em relação a um corte do selo de bom pagador do país pelas agências de classificação de risco, afirma Fernando Bergallo, diretor de câmbio da TOV Corretora. "O mercado não vai ficar esperando o corte da nota para agir. Os investidores sentem os indícios e já se posicionam, comprando a moeda, mesmo que um eventual rebaixamento só ocorra no ano que vem", diz.

Parte da percepção de que a nota de crédito do país será rebaixada vem da crise política pela qual passa o país, marcada pelas dificuldades do governo de aprovar as medidas de ajuste fiscal, afirma Bergallo. "Quanto mais dificuldade o Legislativo tem para dialogar com Executivo, maior a dificuldade do governo para aprovar o ajuste."

Apesar de antecipar o anúncio do rebaixamento, o dólar ainda não absorveu completamente o impacto do corte da nota, complementa o diretor da TOV. "O rebaixamento não foi precificado por inteiro. Se o corte de fato acontecer, o dólar chega a R$ 4. Mas enquanto isso não ocorre, o mercado vai reagindo às notícias que vão saindo", ressalta.

Com o fim do recesso no Congresso, medidas fundamentais para equilibrar as contas do governo devem ser votadas, como a que aumenta a alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) de bancos, seguradoras e administradoras de cartões de crédito. Novas derrotas devem pressionar a cotação da moeda americana.

BANCO CENTRAL

A sinalização da autoridade monetária de que não vai intervir no mercado cambial já era esperada, afirma Bergallo. "Nenhum Banco Central compra briga com o mercado. O BC intervém quando há uma situação pontual ou um ataque especulativo, mas não quando é uma questão pautada em fundamentos econômicos", ressalta.

O BC fará o primeiro leilão de rolagem dos swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) que vencem em setembro, com volume equivalente a US$ 10,027 bilhões.

A autoridade monetária vai vender no mercado 6.000 contratos. Se mantiver esse ritmo e realizar leilões até o penúltimo pregão do mês, como tem feito, o BC rolará 60% do lote total, fatia aproximadamente igual à rolagem dos contratos para agosto.

BOLSA

As ações do Bradesco pressionam em baixa a Bolsa nesta segunda-feira, com a avaliação do mercado de que o banco pagou caro para adquirir as operações do HSBC no Brasil. Às 11h15, os papéis preferenciais do banco caíam 2,82%, para R$ 26,51, enquanto as ações ordinárias registravam queda de 2,27%, para R$ 27,03 no mesmo horário.

A Bolsa também é afetada por notícias externas negativas, como a queda das Bolsas na China pela terceira sessão seguida, o que pode indicar que as turbulências no mercado financeiro local não acabaram. Como a China é a segunda maior economia do mundo, qualquer desestabilização no país ameaça as demais economias, em especial as emergentes.

O indicador de atividade industrial na China recuou de 49,4 para 47,8 em julho, em medição feita pela Caixin Media (antes HSBC) e divulgada pela Markit. Foi o menor nível em dois anos e o quinto mês seguido com resultado abaixo da marca de 50,0, o que sinaliza contração.

A queda influencia as ações da mineradora Vale nesta segunda-feira. Às 11h10, os papéis preferenciais da empresa tinham queda de 2,32%, para R$ 14,31. No horário, os papéis ordinários caíam 2,68%, para R$ 17,39.

As ações da Petrobras também caem, afetadas por nova queda nos preços do petróleo no mercado internacional e também pela nova fase da Operação Lava Jato, com a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pela Polícia Federal.

Às 11h13, as ações mais negociadas da petrolífera caíam 2,57%, para R$ 10,23, e as com direito a voto tinham desvalorização de 2,59%, para R$ 11,28.


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