Folha de S. Paulo


S&P mantém nota, mas país fica mais perto de perder selo de bom pagador

A agência de classificação de risco Standard & Poor's confirmou o temor do governo brasileiro ao anunciar nesta terça-feira (28) que colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa.

Na escala da agência, o Brasil está no limite do grau de investimento, com a nota "BBB-", mas a perspectiva deixou de ser neutra.

Com a decisão, a agência sinaliza que o país poderá passar a ter grau especulativo, o que poderia levar a uma alta dos juros brasileiros, segundo reportagem da Folha publicada nesta terça.

Esse movimento preocupa o governo Dilma também porque trará mais pressão de alta para o dólar. Após o anúncio, a moeda americana chegou a subir mais de 2% e a ser cotada a R$ 3,44, mas recuou.

A analista para a América Latina Lisa Schineller disse, em entrevista, que a S&P ainda tem a expectativa de que o Brasil reverta as atuais condições de implementação de sua política fiscal, motivo pelo qual a agência não rebaixou a nota para grau especulativo.

No entanto, Shineller disse que isso tomará mais tempo do que o previsto anteriormente.

Segundo a analista, não há um prazo pré-fixado para a reavaliação da nota do Brasil. Eventual rebaixamento dependerá de nova piora significativa do cenário brasileiro, afirmou.

"Se houver maior deterioração, poderemos reduzir a nota", disse. "Mas poderá ficar estável se as incertezas políticas e condições de execução de medidas melhorarem." Ela também afirmou que a volta do crescimento da economia é chave para a melhora da avaliação.

Na semana passada, o governo reduziu a meta de superavit primário de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0,15%.

A S&P considera que a redução da meta fiscal, embora mais realista, mostra o enfraquecimento da economia.

O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro -ou seja, com baixo risco de calote.

As notas de crédito têm impacto sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa.

As previsões da S&P para o Brasil

Em nota, a agência afirma que investigações de corrupção caindo sobre políticos e empresas importantes têm tido peso cada vez maior na perspectiva fiscal e econômica do Brasil, colocando em risco a implementação da política econômica, particularmente no Congresso.

"Desde 23 de março de 2015, quando reafirmamos pela última vez os ratings do Brasil, os riscos de rebaixamento aumentaram. Alteramos a perspectiva para 'negativa', pois, apesar das amplas alterações nas políticas em curso, as quais acreditamos continuam recebendo o suporte da presidente, os riscos de execução aumentaram. Tais riscos têm suas origens tanto no front político quanto no econômico", afirma comunicado da S&P.

No aspecto econômico, a S&P diz que prevê que a contração do PIB brasileiro seja maior e mais duradoura. A agência prevê queda de 2% do PIB em 2015, nenhum crescimento em 2016 e uma melhora tímida em 2017.

As investigações sobre escândalos de corrupção, afirma a S&P, aumentaram as incertezas políticas no curto prazo. Mas, ao mesmo tempo, "são um testemunho da estrutura institucional brasileira, que se contrasta com aquelas de muitos outros mercados emergentes".

A agência cita o abalo na aliança entre PT e PMDB, os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff e a queda da aprovação de seu governo a menos de 10% como fatores que sugerem a diminuição do apoio ao governo no Congresso para a aprovação de "necessárias" medidas do ajuste fiscal.

A S&P manteve a nota A-3 da dívida de curto prazo em moeda estrangeira, BBB+ da dívida de longo prazo em moeda local e A-2 da dívida de curto prazo em moeda local. Também confirmou a avaliação escala nacional brAAA, cuja perspectiva se manteve "neutra"

A agência disse que a classificação do Brasil reflete suas instituições políticas estabelecidas e seu amplo compromisso com políticas que mantêm a estabilidade econômica

Classificação de risco

SÓ NO 4º TRIMESTRE

Nesta segunda (27), após reunião da coordenação política com a presidente Dilma, o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) afirmou que a recuperação da economia deverá ficar para o último trimestre deste ano, e não mais para o início do segundo semestre.

Oficialmente, o governo fala numa retração da economia de 1,5% em 2015, mas reservadamente teme que seja pior, podendo bater em 2%.

De acordo com Barbosa, a redução da meta fiscal é "compatível com a manutenção dos principais programas do governo".

O ministro disse ainda que o Planalto não pretende usar as reservas internacionais. "O governo não pensa em utilizar os estoques de reservas internacionais, que é um ativo que dá ao governo brasileiro maior autonomia na condução de sua política econômica", completou.

Barbosa ressaltou ainda que vê sinais de recuperação em alguns setores da economia, como agronegócio e exportações, e que é "natural" que, com mudanças no cenário econômico, os preços flutuem e haja um aumento temporário da inflação, que deve ser reduzida no ano que vem.

"Estamos numa fase de reequilíbrio, numa fase de ajuste. Durante essa fase há um aumento temporário da inflação e uma redução da atividade econômica, com flutuação de alguns preços", disse. Para ele, o importante é que a economia brasileira "absorva" essas flutuações sem grandes prejuízos.


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